Se andar por esse labirinto
acompanhado era assustador, imaginem sozinho. Eu estava ficando paranoico,
qualquer mero ruído me fazia saltar e gritar igual uma criança assustada ― um
morcego quase me fez enfartar. Os corredores eram escuros, as únicas fontes de
iluminação, eram pequenas tochas presas nas paredes. O tremular do fogo deixava
o lugar ainda mais assombroso, as sombras pareciam se mexer e eu tinha o tempo
todo, uma terrível sensação de estar sendo observado.
Lembrei-me daqueles filmes antigos
de terror, onde as pessoas caminhavam diretamente para os fantasmas, e eram
surpreendidas com o maior susto.
― Fique calmo Oliver, fantasmas
não existem. ― Respirei fundo. ― Dragões sim, mas fantasmas não...
BUM! BUM! BUM! ― um barulho estrondoso
cortou o silêncio dentro do labirinto. Não consegui nem pensar, minha primeira
reação foi correr e gritar. O que foi? Sou um caçador de dragões, e não um
caçador de fantasmas.
Virei para a direita,
esquerda, direita novamente. Passei direto por uma bifurcação pegando a saída da
direita, alguns segundos depois parei abruptamente, arfando. Olhei para trás e
não avistei absolutamente nada.
― Que droga foi essa agora?!
― questionei, me escorando na parede ao lado para recuperar o ar.
Minha mão tocou uma pedra
solta, sem querer a empurrei acionando algum tipo de dispositivo medieval. Uma
lâmina de machado gigante desceu como um pêndulo em minha direção. Mais uma vez
os meus reflexos de caçador de dragões me salvaram, segundos antes da lâmina me
fatiar, saltei e rolei para frente. Não tive tempo de reclamar, logo percebi
que estava pisando em uma lajota solta, pressionando outro maldito botão.
Pequenos buracos se abriram ao meu redor ― não sei explicar como, mas eu sabia
o que aconteceria a seguir ― rapidamente, abri minha mochila e peguei o manto
do Rhinoceros. Enrolei-me nele um segundo antes de uma rajada de fogo brotar do
chão, incendiando todo o estreito corredor.
O manto funcionara
perfeitamente, levantei ileso, nem senti o calor do fogo enquanto ele queimava
ao meu redor. Antes de seguir, dei mais uma olhada nas armadilhas que acabei de
me livrar.
― Indiana Jones ficaria
orgulhoso ― falei com as mãos na
cintura.
Para mim, era importante
manter o bom humor, coisas terríveis estavam acontecendo. O dragão maligno
estava prestes a ressurgir com todo o seu poder e magnitude. Maia não
aguentaria por muito tempo, o veneno continuava se espalhando por seu corpo, e
somente eu poderia ajuda-la. Eu precisava continuar com a cabeça no lugar e
terminar a minha missão logo. Era difícil ter uma noção de tempo naquele lugar,
mas eu sabia que o meu estava acabando.
Continuei andando, dessa vez
mais atento, evitando algumas armadilhas visíveis. Passei por cima de uma linha esticada no corredor,
se eu tivesse pisado nela, uma pilha de pedras teria desabado sobre mim ― muito óbvio.
Aquele lugar era enorme, os
corredores não tinham fim. Já estava arrependido de ter escolhido o desafio do
labirinto. Sem o GPS para me guiar, eu
poderia muito bem estar andando em círculos.
Parei de caminhar ao me
deparar com duas portas de madeira antiga, ambas com formas atormentadoras de
pessoas entalhadas em alto relevo. Provavelmente quem esculpiu esses desenhos
era maluco. Procurei por detalhes que pudessem me dizer por qual delas deveria
passar ― ou por qual não deveria
passar. Mas as duas eram exatamente iguais.
Se eu tivesse uma moeda,
poderia ter tirado na sorte. Mas resolvi seguir meu instinto, escolhendo o
caminho da esquerda. Lentamente empurrei a porta, com um rangido agudo ela se
abria aos poucos. Eu estava preparado para uma possível armadilha.
Mas nada aconteceu.
Um longo corredor se
estendia logo atrás do acesso. Assim como os demais, era iluminado apenas por
pequenas tochas, com um fogo fraco e tremulante. Sombras serpenteavam por toda
a extensão da passagem.
Fiquei curioso para saber o
que havia atrás da outra porta. No entanto, achei melhor nem descobrir ― um
corredor assustador era o suficiente para mim.
Eu me preparava para um novo
desafio. As armadilhas quase me mataram, mas não foram nada comparadas aos Ettercaps. Eu esperava outros monstros
assassinos aparecerem para me enfrentar ― não estava ansioso por isso, mas
gostaria de estar preparado dessa vez.
O corredor se estendeu até uma
pequena sala. Ela tinha apenas duas aberturas, a que eu usei para entrar e
outra logo à frente. Dirigi-me até a saída frontal, mas quando tentei
atravessa-la fui atingido por algum tipo de energia invisível, sendo impedido
de avançar.
― Mas o que... ― Levei minha mão até a porta, mas ela
foi empurrada de volta.
― É um campo de força ― disse uma voz às minhas costas.
Rapidamente invoquei minha
espada e ativei meu escudo. Ao me virar, dei de cara com um homem de meia idade
com as mãos levantadas. Ele usava um daqueles vestidos antigos, colorido e
extravagante.
― Opa-opa. Tenha cuidado
garoto, você pode acabar machucando alguém com isso aí ― disse o homem de vestido.
― E quem é você? ― perguntei, anda com a espada apontada
para ele.
― Há muito tempo, eu
era um simples mercador ― respondeu
ele ainda com os braços erguidos. ― Mas
hoje, sou o seu próximo desafio.
Estremeci ao som dessas
palavras.
― Então, acho que devo
lhe machucar com a minha espada sim.
O homem estreitou os olhos,
baixou os braços e começou a rir.
― O que? Não! Você
entendeu errado, garoto. Eu não sou esse tipo de desafio.
― O que você quer
então?
― Perdoe-me pela falta
de educação, estou aqui nesse lugar solitário há muito tempo. Gostaria de me
apresentar, sou Dário, o mestre das charadas.
Eu não estava entendendo o
que ele queria dizer, mas o charadinha
não parecia ser uma ameaça para ninguém. O homem era mais magro do que eu, e
tinha dificuldade até mesmo para se mover.
― Eu não tenho tempo
para isso, senhor charada. Preciso...
― Só existe uma forma
de atravessar esse portal ― disse ele
apontando para a passagem que estava bloqueada, pelo campo de força. ― Você precisa acertar uma de minhas charadas, um
teste de raciocínio lógico. Apenas homens inteligentes merecem o poder da Chama Sagrada.
― E se eu simplesmente me
recusar, e usar a espada para fazê-lo abrir aquela passagem? ― questionei
balançando minha espada no ar.
― Se você me matar jamais
poderá seguir por esse caminho. A única forma de continuar é resolvendo o meu
enigma. Se você passar por esse desafio, encontrará a Chama Sagrada logo depois dessa sala. Mas se errar... ― ele fez uma
pausa e me encarou com frieza ― se você errar, a sua alma ficará presa nesse
lugar para sempre e sua derrota será entalhada nas portas da vergonha, com os
demais.
Lembrei-me dos desenhos que estavam entalhados
nas duas portas que deixei para trás. Isso explica porque eles eram
atormentadores daquela forma. Eu não gostaria de acabar com a minha alma
aprisionada em uma porta da vergonha.
― Mas é claro que todos tem
a oportunidade de escolher. Se você voltar e seguir o caminho da outra porta,
chegará até a Chama Sagrada sem
desafio algum. É uma opção segura e garantida, entretanto, o caminho será
longo... talvez umas duas horas a mais.
Eu gostaria que Maia
estivesse aqui nesse momento. Ela é com certeza, mais inteligente do que eu.
Provavelmente, aceitaria o desafio da charada sem hesitar. No entanto, eu
preciso fazer isso sozinho e não tenho tempo para os caminhos mais longos e
seguros.
― Eu aceito, Dário. Pode
mandar sua charada ― falei decidido, com o peso do mundo nas costas.
Não era apenas a minha vida
que estava em jogo, também era a de Maia e de todos no mundo mortal. Se eu não
fosse capaz de concluir estes desafios, Rendar,
o dragão maligno espalharia o caos na terra. Teríamos um apocalipse iminente.
― Excelente! ― exclamou o
homem de vestido. Ele estalou os dedos e começou a contar uma história:
― Era uma vez uma linda
princesa chamada Micaela. O pai de Micaela, o rei, queria ter a certeza de que
sua filha realmente se casaria com um homem inteligente. Para testar os
pretendentes de sua filha, o rei então colocou três caixas sobre uma mesa. Uma
de ouro, uma de prata e uma de bronze. E escondeu uma foto de Micaela dentro de
uma delas. ― Dário contava a história gesticulando o tempo todo. Quando
concluiu a primeira parte, magicamente três caixas apareceram em minha frente.
Pelo menos a imagem de três caixas, parecia algum tipo de holograma, mas eu
sabia que se tratava de magia.
― O pretendente tinha que
ser capaz de descobrir em qual caixa estaria à foto de Micaela numa única
tentativa, não demorando mais de trinta segundos ― completou o senhor charada.
Enquanto ele falava eu
observei as caixas em minha frente. Todas tinham sobre sim, uma mensagem cada. Na
caixa de ouro dizia: A foto de Micaela está aqui. Na caixa de prata estava
escrito: A foto de Micaela não está nesta caixa. E na caixa de bronze continha
a mensagem: A foto de Micaela não está na caixa de ouro. Eu estava concentrado
e prestava atenção em cada palavra. E mais uma vez desejei que Maia estivesse
comigo.
― O rei avisou que independentemente
de onde estava a foto, somente uma das três mensagens era verdadeira ―
explicou, Dário.
Minha mente estava a mil, tentando
ao máximo desenvolver um raciocínio rápido e lógico.
― Em qual das caixas está à
foto de Micaela? ― perguntou o comerciante.
Nesse momento, uma ampulheta
“holográfica” surgiu ao meu lado. A areia escorria rapidamente marcando menos
de trinta segundos para a minha resposta.
― Ahn...
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