Capítulo vinte três - Tomei uma decisão difícil



Todos sabem que a vida é feita de escolhas. Alguns decidem ir pelo caminho mais fácil, passam por cima de outras pessoas e pensam somente em si próprios. Entretanto, outros são nobres, escolhem o caminho mais difícil, porém o mais honrado e benéfico para todos.
Eu fiz a minha escolha. E não me arrependo disso.

― Você! ― exclamei.

Ela aproximou-se delicadamente, pairando sobre o solo. Estava vestida da mesma forma, apenas com um longo vestido vermelho. Não parecia ter mais do que vinte anos de idade, no entanto, habitava este mundo há mais de mil.

Sua beleza era exótica. Lembrava o fogo. Magnifica, mas ao mesmo tempo perigosa e poderosa. 

― Eu sabia que você conseguiria chegar até aqui ― disse a Salamandra com uma voz suave e calorosa.

Quando nos encontramos pela primeira vez, a elemental foi gentil comigo. Maia teimava que ela estava dando em cima de mim, mas era difícil acreditar nisso. O que uma mulher de mil anos iria querer com um garoto de quinze? 

― E o que você está fazendo aqui? ― questionei. 

Alguma coisa me dizia que ela não estava lá para me entregar uma medalha e uma coroa de louros.

― Para o desafio final, é claro ― disse ela esboçando um sorriso malicioso.
― E o que é esse desafio?

A Salamandra chegou perto de mim, seu calor inundou o meu corpo. Eu sentia uma mistura de conforto e desconforto. Era como se ela fosse uma fogueira  ― estar em sua frente é quente e aconchegante, mas se chegar perto demais o fogo pode queimar e machucar. 

― Vá com calma, meu nobre guerreiro. Vamos aproveitar esse momento... a sós.
Cerrei os punhos.

― Eu não tenho tempo para isso, preciso sair logo daqui. Maia está morrendo e o mundo está prestes a acabar.

Ela suspirou e olhou com desdém para a barraca onde Maia estava. 

― Sim... a garotinha está com problemas.

Seu tom de voz começava a me irritar. Maia não estava apenas com problemas, ela estava morrendo.

― Vamos, Salamandra! Qual o desafio?!

Ela revirou os olhos e afastou-se.

― Você está com muita pressa, Oliver Turner... Poderíamos nos divertir um pouco ― declarou ela. ― Você sabe a quanto tempo que ninguém chega até o desafio final? Décadas.
Novamente cerrei os punhos, olhei diretamente para ela com o olhar de uma fera selvagem. Essa garota estava realmente flertando comigo. Enquanto, Maia agonizava e o mundo se encontrava a beira do apocalipse. 

 Ela pareceu notar a minha irritação.

― Tudo bem. Você é quem sabe ― disparou ela cruzando os braços. ― Já que está com tanta pressa de sair daqui, vou lhe dar uma oportunidade de escolher. Você decide se quer participar do desafio final ou não.

― O que? ― perguntei franzindo o cenho.

― As coisas pioraram lá fora, terremotos têm acontecido com mais frequência. Você demorou muito nos outros desafios, Oliver. Rendar vai despertar em poucos minutos. Não há tempo para o último desafio. Pode pegar a Chama Sagrada e ir embora, mas você precisa querer isso.

Uma coisa eu aprendi nesses últimos dias, monstros e criaturas mágicas não fazem nada de boa vontade. Sem dúvidas tinha alguma coisa por trás desse papo todo. É claro que eu queria isso, mas antes precisava me certificar. 

― É só isso, Salamandra? 

― Bem... 

― Se você escolher participar do desafio e vencer, lhe darei o antídoto para salvar a garotinha... e também a chama, é claro. 

― O antídoto?! Você tem o antídoto? ― questionei entre gritos. ― No que você está pens... ― ela me interrompeu com um aceno de mão. Um sorriso irônico encheu o seu rosto.
Eu sabia que ela estava escondendo algo ― pensei. 

― Mas você também pode escolher pegar a Chama Sagrada e ir embora... No entanto, a garota fica e você nunca poderá salvá-la ― explicou ela com tremenda satisfação no olhar.
Enchi-me de raiva ao ouvir isso, não conseguia acreditar que ela estava querendo negociar a vida de alguém. 

― Isso é ridículo! Eu não vou deixar, Maia para trás! ― gritei. ― Ainda mais sabendo que a cura para o veneno está aqui.

― Nós não temos tempo para esse desafio! Se Rendar despertar com todo o seu poder, o mundo inteiro pode acabar. Você precisa desse poder para derrota-lo e precisa disso agora ― declarou a elemental irritada. 

― Você é insana! ― O sangue estava fervendo em minhas veias. 

― Pelo bem da humanidade, Oliver, você deve fazer a escolha certa. Às vezes precisamos sacrificar um, para salvar milhares. 

Uma parte de mim dizia que ela estava certa, mas outra parte jamais deixaria um companheiro para morrer. 

― E por que você não da à droga do antídoto para ela e ambos vamos lutar com o dragão?!
― Não posso meu bravo guerreiro. Isso seria contra as regras.

As coisas eram simples, mas essas divindades insistiam em complicar tudo com suas regras e jogos estúpidos. Era um ciclo sem fim, tudo começou com, Belenus. Ele poderia simplesmente ter me dado à chama para destruir o monstro antes de seu renascimento. Tudo ficaria bem. Mas ele me sujeitou a esses desafios idiotas, para mostra o que? O tempo estava acabando e eu não sabia o que fazer.

― Você deve escolher logo. Por gostar de você, lhe aconselho: pegue esse poder e vá embora. Você será um guerreiro muito poderoso, Oliver Turner. Mas precisa da Chama Sagrada

Estava sentindo o peso do mundo em minhas costas.

Olhei para a barraca de Maia, lembrei-me de todos os nossos momentos até esse dia. Pouco tempo se passou desde que nos conhecemos, mas nesse período acumulamos diversas experiências e nos tornamos bastante próximos. E ainda teve aquele beijo... E agora eu tenho que escolher entre ela ou o resto do mundo. Como eu poderia salvar o mundo, não sendo capaz nem de salvar a minha garota? Eu não queria ser egoísta, mas também não queria ter que escolher quem deveria morrer ou viver. 

Isso é uma grande injustiça ― pensei.

― Qual é o desafio final? ― perguntei com a cabeça baixa. ― Mesmo que eu decida ir embora, quero saber.

A Salamandra girou sobre o próprio eixo, fazendo uma cortina de fogo surgir ao seu redor. Ela levantou voo até meia altura e aterrissou em minha frente com esplendor. 

― Sou eu ― declarou ela enquanto a cortina de fogo se dissipava. ― Eu sou o último desafio. Você deve me derrotar em uma batalha para conquistar a chama.

Engoli em seco. 

Desde o início eu imaginava que teria de enfrentar a elemental para então pegar a Chama Sagrada. Entretanto, quando você está frente a frente com ela, isso parece algo absurdo. A Salamandra é a criadora do fogo, um ser milenar com poderes incalculáveis. Talvez até mais forte do que o próprio Rendar. 

― Você percebe, Oliver? Enfrentar-me seria uma grande loucura.

Milhões de pensamentos rondavam minha mente. Eu não tinha uma estratégia inteligente, na verdade, não tinha nem um pequeno plano mirabolante. 

Mas fiz a minha escolha. E não me arrependo disso.

― Sabe de uma coisa? Dizem por aí, que sou louco mesmo. ― Levantei a mão para os céus e com uma atitude surpreendente, invoquei minha espada. ― Pode vir, esquentadinha


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