Meus
sentidos permaneciam em estado de alerta constante. A adrenalina demorava um
pouco para baixar depois de uma batalha. Meus ouvidos estavam sensíveis,
qualquer ruído era perceptível. O coração batia em um ritmo acelerado,
parecendo um interminável solo de bateria. Meus olhos percebiam os mínimos
detalhes em meio à escuridão.
— Você foi
muito bem, Oliver Turner — insistiu a voz sombria. — Não poderia esperar menos
de um filho do fogo.
Quando a voz
cessou, uma figura surgiu dentre as sombras. Meus sentidos entraram em alerta
geral.
Era uma
ameaça.
No entanto,
meu corpo estava paralisado. Toda aquela adrenalina corria em meu sangue, mas
eu não conseguia me mexer. Aquela coisa caminhou ao meu redor, como se
estivesse me analisando. Eu sentia algo quando ele se aproximava. Era uma
sensação diferente, difícil descrever. O calor que a criatura transmitia era
inebriante, mesmo sendo tolerante ao fogo estava começando a me sentir
sufocado.
— Que-em é
você? — Minha voz estava saindo falhada.
Ele se
aproximou e parou em minha frente, foi então que pude vê-lo melhor. Era um
homem alto, aparentemente de meia idade. Usava uma roupa de guerreiro, estilo a
de Belenus, porem negra. Seu rosto era coberto por uma máscara imitando o rosto
de um dragão. (Porque tinha que ser um dragão? Não poderia ser um coelhinho?).
Na sua
cintura pendia uma espada de dois gumes, possuía uma lâmina escura e ao mesmo
tempo brilhante. Entretanto, o mais assustador era sua voz. Ele falava como um
robô do mal. Parecia que estava usando um daqueles modificadores de voz na
garganta.
— Eu sou o General Dáblio, a serviço do poderoso Rendar — respondeu ele me encarando com
aquela máscara aterrorizante — Meu
mestre, gostaria de vê-lo pessoalmente.
Minha voz
continuava entalada, como se eu tivesse engolido uma laranja inteira.
— A única
co-oisa que ele va-ai ver é a mi-inha espa-ada…
— Você é
corajoso Oliver — respondeu o general interrompendo-me. — Mas essa coragem não
irá mudar o seu destino.
Depois de
algum tempo caçando monstros, você se acostuma com as ameaças. Vou arrancar a sua pele! Vamos comê-lo no
jantar! Vamos roubar todas as suas coisas! Mas por algum motivo, as
palavras do General Dáblio me acertaram como navalhas afiadas.
— Se vo-ocê
pensa que va-ai me levar sem luta-ar…
— Levar
você? — questionou ele. — Não, você irá por vontade própria. É assim que deve ser.
As coisas
que o general dizia, não faziam sentido algum. Porque eu deveria ir até o
dragão por vontade própria? É claro, desde o início era isso que eu pretendia.
Encontrar o monstro e matá-lo. Mas a forma que Dáblio falava era estranha,
parecia estar escondendo algo.
— Recado
anota-ado — gaguejei. — Por minha-a própria vonta-ade irei até Re-endar… para
aca-abar com ele!
— Eu
acredito — declarou o general. — Mas para garantir que isso aconteça, tomarei
algumas providências.
Ele se virou
e caminhou mais alguns metros a frente, deixando-me para trás. Tomarei algumas providências. As
palavras dele giravam em minha mente, buscando um significado qualquer. O que
ele poderia fazer para garantir que eu fosse até o dragão? Como um choque eu mesmo
respondi essa pergunta. Entendi as intenções dele e meu corpo inteiro
estremeceu com a ideia.
— Maia!
— Oli-iver…
— chamou ela. O terror em sua voz era audível. A adrenalina se transformou em
pânico. Meu corpo continuava imóvel e sem reação.
— Se você
quiser ver a garota novamente, siga até o seu destino — falou o General Dáblio.
Uma coluna
de fogo desceu do céu, exatamente onde Maia estava.
— NÃAAO! —
exclamei.
O poder da
Chama Sagrada veio à tona. Nunca havia sentido algo assim, era como se tivessem
ligado um reator nuclear dentro de mim. Seja lá o que estivesse me paralisando,
desapareceu.
No mesmo
instante me lancei sobre o general com fúria.
Em um dos
seus braços, ele carregava Maia inconsciente e com o outro, controlava a
cortina de fogo que os circulava.
Meu
movimento foi inesperado e veloz. Dáblio olhou para trás surpreso e assustado.
Meu golpe o teria cortado ao meio, mas infelizmente o general era habilidoso e
conseguiu escapar no último instante. No entanto minha espada acertou sua
máscara de dragão, quebrando-a parcialmente.
Por alguns
segundos pude ver parte do verdadeiro rosto do General Dáblio. De fato, era
humano. Mas seu olhar era sombrio como o de um monstro.
Levantei
minha espada mais uma vez, para desferir outro golpe. Entretanto, antes que eu
pudesse fazer qualquer coisa, o véu de fogo brilhou com mais intensidade e
explodiu na minha frente.
Fui lançado
para trás e bati contra uma árvore. Precisei lutar para permanecer consciente.
Meu corpo inteiro estava doendo, parecia que um caminhão tinha me atropelado
uma vez e depois voltado para atropelar de novo, de novo e de novo. Pus-me de
joelhos sobre a grama chamuscada pelo fogo. Rapidamente olhei para frente, mas
eles haviam desaparecido.
General
Dáblio não estava mais lá. E o mais importante: ele havia levado Maia consigo.
Ela era a garantia dele.
— Maia…
A escuridão
começou a sumir. O céu retomava sua coloração habitual, até o sol voltava a
brilhar. O vulcão que antes tremia e jogava lava para todos os lados, estava
mais calmo.
Levantei-me
com dificuldade (acho que devo ter quebrado algumas costelas, no mínimo).
Algumas árvores ainda queimavam ao meu redor. De longe pude visualizar o vulcão
Kilauea, o covil do dragão maligno.
— Você me
quer?! — perguntei olhando para o vulcão. Ergui uma das mãos na direção da
Espada do Oeste que estava logo à frente. A espada vibrou e veio até mim,
pousando com o punho em minha mão. — Então você terá!
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