Capítulo vinte sete - Um cara com voz de robô coloca fogo em tudo



Meus sentidos permaneciam em estado de alerta constante. A adrenalina demorava um pouco para baixar depois de uma batalha. Meus ouvidos estavam sensíveis, qualquer ruído era perceptível. O coração batia em um ritmo acelerado, parecendo um interminável solo de bateria. Meus olhos percebiam os mínimos detalhes em meio à escuridão.



— Você foi muito bem, Oliver Turner — insistiu a voz sombria. — Não poderia esperar menos de um filho do fogo.



Quando a voz cessou, uma figura surgiu dentre as sombras. Meus sentidos entraram em alerta geral.



Era uma ameaça.



No entanto, meu corpo estava paralisado. Toda aquela adrenalina corria em meu sangue, mas eu não conseguia me mexer. Aquela coisa caminhou ao meu redor, como se estivesse me analisando. Eu sentia algo quando ele se aproximava. Era uma sensação diferente, difícil descrever. O calor que a criatura transmitia era inebriante, mesmo sendo tolerante ao fogo estava começando a me sentir sufocado.



— Que-em é você? — Minha voz estava saindo falhada.



Ele se aproximou e parou em minha frente, foi então que pude vê-lo melhor. Era um homem alto, aparentemente de meia idade. Usava uma roupa de guerreiro, estilo a de Belenus, porem negra. Seu rosto era coberto por uma máscara imitando o rosto de um dragão. (Porque tinha que ser um dragão? Não poderia ser um coelhinho?).



Na sua cintura pendia uma espada de dois gumes, possuía uma lâmina escura e ao mesmo tempo brilhante. Entretanto, o mais assustador era sua voz. Ele falava como um robô do mal. Parecia que estava usando um daqueles modificadores de voz na garganta.



— Eu sou o General Dáblio, a serviço do poderoso Rendar — respondeu ele me encarando com aquela máscara aterrorizanteMeu mestre, gostaria de vê-lo pessoalmente.



Minha voz continuava entalada, como se eu tivesse engolido uma laranja inteira.



— A única co-oisa que ele va-ai ver é a mi-inha espa-ada…



— Você é corajoso Oliver — respondeu o general interrompendo-me. — Mas essa coragem não irá mudar o seu destino.



Depois de algum tempo caçando monstros, você se acostuma com as ameaças. Vou arrancar a sua pele! Vamos comê-lo no jantar! Vamos roubar todas as suas coisas! Mas por algum motivo, as palavras do General Dáblio me acertaram como navalhas afiadas.



— Se vo-ocê pensa que va-ai me levar sem luta-ar…



— Levar você? — questionou ele. — Não, você irá por vontade própria. É assim que deve ser.



As coisas que o general dizia, não faziam sentido algum. Porque eu deveria ir até o dragão por vontade própria? É claro, desde o início era isso que eu pretendia. Encontrar o monstro e matá-lo. Mas a forma que Dáblio falava era estranha, parecia estar escondendo algo.



— Recado anota-ado — gaguejei. — Por minha-a própria vonta-ade irei até Re-endar… para aca-abar com ele!



— Eu acredito — declarou o general. — Mas para garantir que isso aconteça, tomarei algumas providências.



Ele se virou e caminhou mais alguns metros a frente, deixando-me para trás. Tomarei algumas providências. As palavras dele giravam em minha mente, buscando um significado qualquer. O que ele poderia fazer para garantir que eu fosse até o dragão? Como um choque eu mesmo respondi essa pergunta. Entendi as intenções dele e meu corpo inteiro estremeceu com a ideia.



— Maia!



— Oli-iver… — chamou ela. O terror em sua voz era audível. A adrenalina se transformou em pânico. Meu corpo continuava imóvel e sem reação.



— Se você quiser ver a garota novamente, siga até o seu destino — falou o General Dáblio.



Uma coluna de fogo desceu do céu, exatamente onde Maia estava.



— NÃAAO! — exclamei.



O poder da Chama Sagrada veio à tona. Nunca havia sentido algo assim, era como se tivessem ligado um reator nuclear dentro de mim. Seja lá o que estivesse me paralisando, desapareceu.



No mesmo instante me lancei sobre o general com fúria.



Em um dos seus braços, ele carregava Maia inconsciente e com o outro, controlava a cortina de fogo que os circulava.



Meu movimento foi inesperado e veloz. Dáblio olhou para trás surpreso e assustado. Meu golpe o teria cortado ao meio, mas infelizmente o general era habilidoso e conseguiu escapar no último instante. No entanto minha espada acertou sua máscara de dragão, quebrando-a parcialmente.



Por alguns segundos pude ver parte do verdadeiro rosto do General Dáblio. De fato, era humano. Mas seu olhar era sombrio como o de um monstro.



Levantei minha espada mais uma vez, para desferir outro golpe. Entretanto, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o véu de fogo brilhou com mais intensidade e explodiu na minha frente.



Fui lançado para trás e bati contra uma árvore. Precisei lutar para permanecer consciente. Meu corpo inteiro estava doendo, parecia que um caminhão tinha me atropelado uma vez e depois voltado para atropelar de novo, de novo e de novo. Pus-me de joelhos sobre a grama chamuscada pelo fogo. Rapidamente olhei para frente, mas eles haviam desaparecido.



General Dáblio não estava mais lá. E o mais importante: ele havia levado Maia consigo. Ela era a garantia dele.



— Maia…



A escuridão começou a sumir. O céu retomava sua coloração habitual, até o sol voltava a brilhar. O vulcão que antes tremia e jogava lava para todos os lados, estava mais calmo.



Levantei-me com dificuldade (acho que devo ter quebrado algumas costelas, no mínimo). Algumas árvores ainda queimavam ao meu redor. De longe pude visualizar o vulcão Kilauea, o covil do dragão maligno.



— Você me quer?! — perguntei olhando para o vulcão. Ergui uma das mãos na direção da Espada do Oeste que estava logo à frente. A espada vibrou e veio até mim, pousando com o punho em minha mão. — Então você terá!




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