Depois da
minha última declaração, você deve estar imaginando: Oliver saiu correndo, decidido a acabar com esse dragão maligno de uma
vez por todas. Sim, eu fiz isso. Mas depois de alguns minutos eu cansei, o
vulcão era mais longe do que parecia.
Parei sob a
sombra de uma grande árvore. Na verdade, parecia um amontoado de árvores, com
todos os seus troncos emaranhados formando um só. Era uma figueira, a maior
figueira do Hawaii. Como eu sabia? Tinha uma pequena placa com uma explicação
(longa e chata), sobre a história daquela árvore. Talvez o lugar fosse algum
ponto turístico, mas estava deserto. Pelo jeito ninguém estava interessado em
ver uma árvore grande e velha.
Eu ainda
estava apreensivo com tudo que aconteceu nos últimos minutos. A lembrança do General Dáblio, me dava arrepios. Alguma
coisa nesse cara era familiar, mas ao mesmo tempo causava angústia e medo.
Você irá por vontade própria. É assim
que deve ser. Essas
palavras permaneceram gravadas em minha mente. Eu não sabia o que ele estava
querendo dizer com isso, mas não conseguia pensar em nada de bom.
Não
acreditava que Rendar estivesse planejando uma festa de boas-vindas para mim. Era
difícil de imaginar o senhor dragão maligno, usando um chapeuzinho de festa e
soprando uma daquelas cornetas coloridas. É claro, eu gostaria de ser
recepcionado com um: seja bem-vindo,
Oliver! Não quero mais destruir o mundo, vamos comer bolo! Mas estava mais
para: seja bem-vindo, Oliver! Agora
morra!
O vento
agradável do mar tocava suavemente o meu rosto. Deitei-me sob a grama verde e
macia, pude ver o céu entre as folhas da maior figueira do Hawaii.
Lembrei-me
das viagens de férias com minha mãe. Sempre, depois do almoço, deitávamos em
baixo das árvores e ficávamos observando as folhas caindo. A lembrança doeu um
pouco, porque eu gostaria de saber como ela estava. Queria acreditar que tudo
estava bem, mas era difícil manter a mente sã depois de tudo que aconteceu nos
últimos dias.
Eu estava
mergulhando a fundo em minhas memórias, tanto as de longo prazo, quanto as mais
recentes. Até uma voz rouca, me despertar dos meus devaneios:
— Tudo bem
com você, garoto?
Olhei
levemente para o lado e quase tive um infarto. Meus movimentos foram
involuntários (provavelmente providos por minhas habilidades de caçador de dragões).
Levantei com um salto, erguendo uma das mãos ao céu e invocando a Espada do
Oeste.
—
AaaAaaaaAahh! — gritou a criatura tentando afastar a espada de seu pescoço.
Era um
pequeno monstrinho, de olhos grandes e orelhas pontudas. Deveria ter pouco mais
de um metro de altura. Seu nariz era achatado, lembrando uma batata esmagada.
Estava usando apenas uma camisa havaiana de tamanho normal, mas que lhe cobria
até os joelhos. Se ele usava alguma bermuda por baixo? Prefiro imaginar que
sim.
— Você é um
goblin?! — questionei mantendo minha espada na garganta da criatura. Se fosse
um desses monstrinhos irritantes, eu não o deixaria chamar o resto dos sete
anões, como da outra vez.
— Um
goblin?! Assim você me ofende, garoto! — exclamou ele com indignação.
— Então quem
é você? Ou melhor, o que é você?
Ele tentou
recuar, mas o acompanhei com a lâmina da espada.
— Ora! Eu sou:
Steve, o Elfo Comerciante — respondeu ele estufando o peito.
Pronto. Agora meu dia está completo.
— Um elfo?
Um elfo que se chama, Steve? — suspirei. — É claro, porque não. — Ele me
encarava com seus olhos perturbadores, como se estivesse tentando ler meus
pensamentos. — Você é um dos capangas, de Rendar? — perguntei estreitando os
olhos.
O monstrinho
soltou um gemido agudo ao ouvir o nome do dragão. De alguma forma, escapou da
minha espada e escalou a grande figueira, com apenas um salto.
— Mas o que
foi isso?!
— Vá embora!
Não quero nenhum tipo de associação com essa coisa que você falou! — gritou,
Steve de cima da árvore, completamente apavorado.
Um monstro com medo de outro monstro?
Interessante.
— Aconteceu
alguma coisa entre, Rend…
— Shhhhh! Não fale esse nome! — implorou o
elfo.
— Tudo bem,
me desculpe — disse eu revirando os olhos. — Aconteceu alguma coisa entre você
e esse dragão específico que não posso
falar o nome?
O elfo
desceu da árvore lentamente, sentou-se a sombra e respirou fundo.
— Graças aos
deuses, eu nem o conheço. E prefiro que isso continue assim — explicou o
pequeno.
— Ãhn… mas eu
pensei que todos os monstros fossem leais a Ren… — o elfo me olhou atravessado
— desculpe, quis dizer, ao dragão.
— O que você
tem na cabeça, garoto? Por acaso todos os humanos foram leais a Adolf Hitler?
Eu sou apenas um comerciante, não me envolvo com essas coisas perigosas.
Realmente as
palavras do pequeno elfo faziam sentido. Era errado supor que todo ser sobrenatural,
deveria ser mau por natureza. Alguns humanos são ruins, mas nem todos somos
iguais. Pelo jeito, as criaturas mágicas seguiam o mesmo padrão.
— Então,
Steve. O que você vende?
Ao ouvir a
palavra vende, o elfo saltou e mudou
de expressão na mesma hora.
— Ora! Enfim
um cliente! — exclamou ele, esfregando as mãos, o que não me passou muita
confiança.
— Eu sou o
maior elfo comerciante de artigos colecionáveis, de todo o mundo! — disse ele
com orgulho. — O que você procura?
— Hum… na
verdade, não estou procurando nada.
— Você está
brincando? Todo mundo procura alguma coisa — afirmou ele com os pequenos braços
na cintura. — Talvez aquela figurinha que faltou para completar o seu álbum. Ou
alguma revista em quadrinhos antiga que você não encontra em lugar nenhum.
Actions figures, tenho de todos os tipos. Quem sabe um filme… possuo ótimos
filmes para negociar.
Eram muitas
coisas, mas nada me interessava nesse exato momento.
— Olhe
Steve. Suas coleções parecem ótimas, mas realmente não estou interessado em
nada disso agora.
— Talvez
algumas revistas adult...
— NÃO!
Definitivamente não! — o interrompi. — Eu tenho assuntos mais sérios para
resolver — falei empunhando minha espada.
Os olhos do
elfo brilharam ao ver a espada brilhar em minhas mãos. Novamente ele deixou
escapar um gemido agudo, mas dessa vez não saiu saltando.
— Essa po-or
acaso é a Espa-ada do Oe-este? — questionou o elfo. — A verdadeira?!
— Ãah… sim —
respondi, imaginando se havia alguma cópia falsa da minha espada por aí.
— Óoh!
Perdoe-me pela ignorância! Mas eu não havia notado anteriormente. Às vezes fico
desatento quando tentam me matar.
— Err… Desculpe-me
por isso — falei.
Steve
ignorou-me completamente.
— Eu não
acredito que quase fui morto por uma arma sagrada! A Espada do Oeste! Um item
extremamente raro! — O elfo estava muito animado, mais do que eu gostaria. —
Você por acaso gostaria de trocá-la? Posso lhe oferecer… hum… que tal uma
coleção com todos os tipos de latinhas de refrigerante do mundo? Desde a
primeira feita há mais de mil anos, pelos vikings, até a última feita há… cinco
minutos — terminou o elfo, olhando para o braço como se estivesse vendo as
horas.
Eu não sei o
que era mais perturbador. Ele querer a minha espada para sua coleção de
bugigangas; ou saber que os vikings tomavam refrigerante; ou ele ver as horas
no pulso, sem um relógio.
— Steve —
falei pausadamente —, a Espada do Oeste não está à venda. Eu vou precisar dela
para lutar com… aquele dragão que não devo mencionar.
O pequeno
elfo estava ficando ansioso como, aqueles colecionadores fanáticos ficam ao
lado de itens raros e únicos.
— Ma-mas…
deve ter algo que eu possa lhe oferecer…
— Nada que
você tenha, vale a Espada do Oeste, elfo — disparei —, desista.
Pude
perceber que, ele levou isso como um desafio. Fechou os olhos como se estivesse
tentando lembrar-se de algo muito importante e com grande valor, para barganhar
pela minha espada.
— Já sei! —
exclamou ele. — Que tal a grande profecia, completa
é claro.
Encarei o
elfo com uma sobrancelha erguida. Era difícil decifrar suas expressões. Agora
ele parecia estar sorrindo, mas também parecia ansioso ou excitado. O que ele
estava querendo dizer com: completa é
claro.
— Do que
você está falando? Eu conheço a toda a profecia! — exclamei. — Quando o mal renascer, um novo guerreiro
deve crescer. A luz o seu caminho guiará, e seu futuro ele mesmo fará — recitei
os versos da profecia que Maia me apresentou.
O elfo ouvia
cada palavra atentamente.
— Há! Essa
realmente é a profecia, mas está incompleta — declarou Steve. — No mundo todo,
eu sou o único que a tem por inteira. A verdadeira, escrita pelos próprios
deuses. Item de colecionador.
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