Capítulo cinco - Um dia quase normal no Memphis Botanic Garden


Eu estava tonto, a espada que apareceu como um relâmpago em minha mão desapareceu da mesma forma. Encontrava-me envolto em uma nuvem de fumaça preta, tudo que sobrou do maldito ogro que nos atacou. Meu coração ainda batia acelerado, meus sentidos estavam apurados. A nuvem foi se dissipando, e quando sumiu por completo lembrei-me dela. Maia continuava deitada no chão — talvez estivesse machucada — pensei.

No mesmo instante corri até ela, e me jogando ao seu lado perguntei — você está bem?!

Ela não respondeu na hora, apenas me encarou e abriu um largo sorriso.

— Ufa! — Respirei aliviado —, nunca mais me assuste assim engraçadinha, achei que aquele monstro ia devorar você — disse levando a mão ao peito.

Sem avisar, ela jogou seus braços sobre mim e me abraçou. — Eu sabia que era você! — exclamou Maia — Oliver, seu poder finalmente despertou.

Meu rosto enrubesceu na mesma hora. Quando ela me soltou, levantei rapidamente e lhe estendi a mão para ajudá-la a se erguer também.

— Ainda achando que eu sou o garoto da profecia? Eu só transformei um monstrinho em fumaça, isso não deve ser nada demais — disse desdenhando de mim mesmo.

— Um monstrinho?! — questionou Maia —, você acabou de derrotar um ogro adulto de meia tonelada, você não sabe o quanto isso é grande senhor teimoso.

Dei de ombros, como se não fosse grande coisa. Mas na verdade eu estava apenas querendo parecer modesto, por dentro eu estava admirado comigo mesmo.

— E tem mais a espada — continuou ela — é uma das armas sagradas dos quatro deuses, a Espada do Oeste. E ela foi concedida a você.

— Ela sumiu — disse mostrando as mãos —, no momento em que o ogro virou fumaça, a espada desapareceu da minha mão.

— É uma arma magica Oliver — disse Maia fazendo uma careta — assim como meu arco, você pode invocá-la quando precisar. — Disse ela com firmeza na voz.

Poucos minutos antes do ogro nos atacar Maia estava me contando a história de quatro homens que se tornaram deuses, após terem derrotado e aprisionado os dragões malignos que ameaçavam o mundo na época. Cada um possuía uma arma especial. Maia foi abençoada com o Arco do Sul, a arma de um deus. E agora, ao que parece eu recebi uma arma também, a Espada do Oeste. — você deve lutar — uma voz ecoava em minha cabeça, eu sabia o que deveria fazer a seguir, mas estava hesitando.

— E então? O que acontece agora? — Perguntei, mesmo sabendo a resposta.

— Nós precisamos ir para o Hawaii e descobrir um modo de acabar com o dragão de fogo, antes que seja tarde demais. — Disse ela mostrando certa preocupação no olhar.

Droga! — Pensei. Eu realmente sabia a resposta. — Mas e minha mãe? - perguntei — eu não posso simplesmente ir para o Hawaii e deixá-la sozinha, ela vai surtar, ou pode até estar correndo perigo.

— Não se preocupe Oliver, sua mãe sabia que esse dia chegaria, assim como um dia chegou para o seu pai. E ela está protegida em sua casa, a magia de proteção que seu pai criou é muito forte naquele lugar.

Agora eu estava ainda mais confuso do que antes de apanhar pros sete anões, — Espera aí engraçadinha — pegou o apelido — acho que você está esquecendo de me contar algumas coisas? Que história é essa da minha mãe saber que esse dia chegaria, e magia de proteção do meu pai? — Perguntei fitando-a nos olhos.

Ela pegou minhas mãos — eu prometo que vou te contar tudo no caminho, apenas confie em mim e venha! — disse ela olhando diretamente nos meus olhos.

Por algum motivo, eu confiava nela. É claro, que normalmente eu não confio em estranhos que acabei de conhecer. Mas depois da maratona com os goblins, a minha vida não tinha mais nada de normal. Apenas assenti, concordando em partir com ela para o Hawaii, atrás de um dragão assassino que no passado matou milhares de pessoas, e que provavelmente nos mataria também. — É, parece um bom programa de viajem — pensei.

— Mas como faremos para chegar até o Hawaii? — questionei. — Vai me dizer que podemos voar também? — perguntei com os olhos brilhando de ansiedade.

— É claro que não — disse ela — isso não é um filme ou um livro, é a vida real. Humanos não voam, nem os caçadores de dragões.

****

Alguns minutos depois, pegamos um ônibus que nos levaria para a estação de Memphis, no Tennessee, onde pegaríamos outro ônibus que nos levaria até uma balsa, e de lá iriamos direto para a terra do surf. Enquanto o ônibus balançava pelas ruas de Nova York, Maia me contou os detalhes que ainda faltavam na minha história.

Meu pai era um caçador de dragões, conhecido como Alex Turner, o lendário. Por muito tempo ele lutou e protegeu os dois mundos dos perigos que os rodeavam, defendeu com honras as barreiras do Oeste, onde o dragão do fogo estava aprisionado. Foi um grande herói, lutou contra uma grande quantidade de monstros e sempre foi um homem honrado. Até que um dia, ele conheceu a jovem Cristine, e ambos se apaixonaram. Ele deixou essa vida perigosa para trás e casou-se com minha futura mãe, e foram morar em uma casinha tranquila no Queens, onde moramos atualmente. Mas o mundo que ele tentou deixar para trás, não o esqueceu. Monstros continuaram a aparecer e atrapalhar sua aposentadoria. Foientão que ele criou uma barreira magica entorno de nossa casa, uma proteção para repelir o mal, e proteger sua amada esposa e seu filho recém-nascido, eu. Tudo estava dando certo até então, porém um dia houve uma invasão na torre do Oeste, e meu pai foi convocado para ajudar a defender a barreira magica. Eu tinha apenas dois anos na época. Antes de partir, ele contou toda a verdade a minha mãe. E por fim disse a ela que esse dia chegaria para mim também, e ninguém poderia impedir o destino. Talvez ele soubesse que não voltaria mais para casa. Desde então minha mãe tem me escondido desse mundo, para me proteger, para evitar que eu tenha o mesmo destino de meu pai. Mesmo sabendo que não conseguiria fazer isso por muito tempo, ela me protegeu o máximo que pode.

Isso foi tudo que Maia me contou, eu não sabia o que dizer. Pela primeira vez na vida não consegui responder com uma piada, apenas assenti e permaneci em silêncio.

Durante a viagem, liguei para minha mãe e tivemos uma longa conversa. De todas as formas possíveis ela tentou me convencer a voltar — você não pode sair por aí matando dragões Oliver, você é muito novo! — dizia ela — Oliver Turner! Volte para casa e deixe que os adultos salvem o mundo! — gritava ela no telefone. Com certeza estava muito preocupada e receosa, mas por fim acabou cedendo e confiando em mim. Prometi que tomaria cuidado e voltaria inteiro pra casa.

Foi um longo dia, Maia estava adormecida ao meu lado, com sua cabeça recostada sobre meu ombro. Meu olhar se perdia janela a fora, observando os prédios passarem rapidamente ao meu lado enquanto tentava processar todas aquelas informações. Mas logo o sono me venceu, e eu também caí em um sono profundo.

****

Estava amanhecendo, quando Maia me despertou dizendo que estávamos chegando na cidade de Memphis, logo iriamos descer.

Ao chegar, compramos as passagens do ônibus que nos levaria ao Hawaii, porém este só partiria no início da tarde. Tínhamos a manhã toda livre. Decidimos conhecer a cidade, e visitar alguns lugares.

Primeiramente a fome nos levou até uma lanchonete, onde comemos hambúrgueres, batatas fritas e refrigerante. Esse parecia o melhor hambúrguer do mundo, eu estava sem comer desde antes do incidente com os goblins no dia anterior, acredito que nesse momento até a comida da minha antiga escola seria a melhor refeição do mundo.

Enquanto comíamos, decidimos visitar o Memphis Botanic Garden, um jardim enorme e muito conhecido aqui na cidade. Possui diversos tipos de ambientes, e todos são muito bonitos e tranquilos.

Ao chegar, seguimos um roteiro de passeio, passando pelo Jardim das Borboletas, onde voavam livremente diversas espécies de borboletas coloridas, Maia parecia muito feliz correndo entre elas, seus olhos azuis brilhavam a luz do sol, irradiando alegria por onde ela passava. Seguimos para o Jardim das Rosas, esse era cercado por variados tipos de rosas, de brancas a vermelhas, realmente um lugar muito agradável e perfumado. Depois de algumas voltas entre outros tipos de jardins exóticos, paramos no Jardim Oriental, onde tudo remetia a cultura japonesa, desde árvores até as construções. Era um lugar incrível, sentamos em um banco perto de uma ponte que passava sobre um riacho. Por um breve momento parecíamos apenas dois jovens normais, se divertindo e aproveitando o dia.

Como eu disse, por um breve momento. Enquanto eu contava a Maia sobre o incidente com o goblin na minha sala de aula, um barulho estridente ecoou alguns metros atrás de nós.

Buuuuuuuum!

Fomos rapidamente até a origem do barulho, o Jardim Oriental estava deserto, provavelmente a essa hora todos estavam almoçando em algum outro jardim. Ao chegar, nos deparamos com uma cena inusitada. Eram duas figuras humanoides, de aparência muito grotesca, tinham os olhos esbugalhados, as orelhas eram grandes e pontudas cercadas por pelos, no lugar de dentes tinham presas afiadas, e um nariz que parecia ter sido quebrado umas vinte vezes. Carregavam uma marreta enorme em uma mão, e uma espada na outra. Eles derrubaram uma árvore, e estavam se preparando para assar alguma coisa.

— São trolls — disse Maia.

Ao chegar mais perto, pude ver o que eles estavam se preparando para comer. Era um dragão, porém um bebê dragão. Ele estava amarrado em um tronco de árvore e choramingava como se estivesse implorando por sua vida.

Precisamos salvá-lo — disse eu para Maia.

Ela me encarou com ceticismo — mas é um dragão! E são dois trolls, você está maluco? Isso seria suicídio! — Exclamou ela.

— Ele é só um bebê, você falou que a origem do mal veio do ser humano, talvez esse dragãozinho ainda não conheça essa maldade — disse eu tentando argumentar e convence-la a me ajudar — E além do mais, olha para aquelas coisas, eles parecem ser muito burros.

Maia suspirou, mas acabou concordando — tudo bem, mas precisamos de um plano.


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