Capítulo sete - Um velho decrépito não vai com a minha cara





Não sei qual cheiro era pior, da boca do troll ou da fumaça preta que ele havia se transformado ao ser destruído.
Argh, parece que não deu tempo de você tomar um banho — disse eu tampando o nariz.
Quando a nuvem negra se dissipou por completo, vi Maia em sua exuberância segurando uma espada enorme nas mãos. Certamente ela não era uma garota frágil e indefesa, era na verdade uma guerreira, forte e corajosa.
— Uau! — Exclamei —, golpe certeiro! O cheiroso não teve nem tempo de pensar. — Se bem que, pensar não era o forte dele.
A grande espada que antes pertencia ao troll começou a brilhar nas mãos de Maia, e aos poucos diminuiu de tamanho, se transformado por fim em uma pequena adaga.
— O que foi isso?! — Perguntei espantado.
Maia segurou mais firme a adaga, e a girou entre os dedos. — Quando usei a arma do monstro contra ele, ela se tornou minha por direito, e agora se adaptou a minha necessidade. — Explicou Maia.
— Incrível —, falei me sentando no chão. Lembrei-me do pequeno dragão, olhei ao redor o procurando —, podemos ficar com o Spyke?

— Quem é Spyke?! — Questionou Maia fazendo uma careta.

— O dragão é claro! — Respondi apontando para ele.

— Você deu um nome para o dragão?! E um nome de cacho... — O dragão estava andando em volta, tentando morder o próprio rabo. — É faz sentido.

— Hey, vem aqui Spyke! — O dragão veio em minha direção saltitando e pulou no meu peito, me derrubando deitado no chão. Ele realmente tinha a personalidade de um cachorro, um enorme cachorro.

Maia suspirou, sorriu e sentou-se no chão ao nosso lado. — Você não existe Oliver Turner! — Disse ela sorrindo.

Por alguns minutos continuamos ali sentados, brincando com nosso novo amigo e recuperando o fôlego após a batalha. — E então? Podemos ficar com ele? — Perguntei enquanto o dragão corria em minha volta.

— Ele é um dragão, eles crescem muito rápido. Logo ele terá uns cinco metros de altura e estará cuspindo fogo para todo lado. — Explicou Maia.

Aaah, mas o Spyke é um bom dragão.

— Eu acredito que seja, mas imagina a loucura que seria entrarmos em um ônibus com um dragão... — Maia parou de falar subitamente, e seus olhos se arregalaram —, essa não! O ônibus!

O nosso ônibus pro Hawaii sairia no inicio da tarde, a distração com os trolls foi o suficiente para nos atrasar.

Precisei me despedir do meu novo amigo, — temos que ir amigão, infelizmente você não pode vir conosco agora, mas tenho certeza de que logo nos veremos de novo! — Spyke choramingou -, prometa que será um bom dragão e que não vai crescer e destruir o mundo, okay? — Não sei se ele entendeu, mas me deu uma longa lambida no rosto e alçou voo, desaparecendo dentro do jardim. Até mais garoto — pensei.

****

Corremos o máximo possível, mas não foi o suficiente, já era tarde demais, o ônibus partiu sem nós.

— Droga! Acho que vamos precisar de outra passagem —, falei.

Juntamos todo dinheiro que tínhamos, porém com a quantia não dava para comprar nem uma latinha de refrigerante.

— Eu gastei todo dinheiro que tinha com a passagem anterior, e na lanchonete também — lamentou Maia.

Estávamos sentados nos bancos da estação rodoviária, pensando em como poderíamos chegar ao Hawaii, sem dinheiro. Poderíamos ir a pé, mas até chegarmos lá, provavelmente o mundo já teria acabado umas duas vezes.

— Já sei! — Exclamou Maia, levantando-se do seu assento e atraindo olhares curiosos por toda a parte. — Vamos voando!

Heey! — Eu perguntei antes se podíamos voar, e você disse que não! — Falei levantando e ficando em pé em cima do banco. — Eu sabia! É só me falar como, eu aprendo rápido — disse me preparando para pular.

— Desce daí garoto — disse Maia me puxando de volta para o banco e olhando para os lados envergonhada —, eu quis dizer de avião!

Aaah bom... — respondi um pouco desapontado. — Mas se não temos dinheiro nem para o ônibus, o que dirá para um avião.

— Talvez não precise de dinheiro, eu conheço alguém que pode nos dar uma carona. E ele mora a alguns quilômetros daqui, podemos ir a pé até sua casa.

De inicio essa ideia me animou, mas depois de caminhar quase duas horas de baixo de um sol escaldante, sem comer nada após o café da manhã, essa ideia parecia ser muito idiota. Eu estava preferindo lutar de novo com os trolls, do que ter que caminhar mais um pouco. Estávamos em algum lugar longe da cidade, era meio que um deserto. Não sei dizer se ainda era território do Tennessee, era afastado de qualquer tipo de civilização.

— Afinal, quem é esse alguém que você conhece Maia?! — Perguntei com a voz fraca, do cansaço e da fome. — E, por favor, me diga que estamos chegando, caminhamos tanto que daqui a pouco vou achar que chegamos no Texas.

— Ele é um veterano da segunda guerra, ele serviu o exercito do nosso país, e serviu o mundo encantado como um guerreiro também, por um longo tempo. Acredito que ele ficará feliz em nos ajudar. E não, não estamos no Texas. Ele mora logo ali, veja. — Disse ela apontando para a única casa a um raio de dez quilômetros.

— Pelo menos ele não tem problemas com os vizinhos, não é?

Maia me olhou e suspirou —, deixa que eu falo, okay?

Aproximamo-nos com cuidado, a casa além de velha, estava caindo aos pedaços. Parecia que ele morava ali desde a segunda guerra mundial e que nunca havia feito uma reforma. Atrás da casa estava um avião velho, — não poderia ser aquele avião que Maia estava querendo pedir carona, ou seria? — Pensei.

Maia bateu na porta, demorou alguns instantes até alguém responder. Um senhor de idade avançada abriu apenas uma fresta na porta —, eu não quero comprar nada, vão embora! — disse o velho ameaçando fechar a porta na nossa cara.

Maia segurou a porta —, Sr. Stone, sou eu Maia, o senhor deve lembrar-se de mim.

Ele abriu a porta novamente, desta vez com um interesse súbito ao ouvir um nome conhecido — Maia? Minha jovem... Como você cresceu. O que faz aqui, tão longe de casa?!

— Estamos em uma missão muito importante — respondeu Maia.

Foi então que o velho percebeu que eu estava ali também, me olhou dos pés a cabeça, como se estivesse me analisando. — E quem é o magricela que anda com você? - Perguntou o velho.

— Ei! O que você... — Maia pisou no meu pé. — Aaai —, murmurei.

— O nome dele é Oliver Turner, ele é um caçador de dragões, assim como eu — disse Maia me puxando para perto dela.

O velho continuou me olhando com aquele olhar de desprezo, como se eu não superasse suas expectativas. Minha vontade era mandar esse velho decrépito pastar, mas precisávamos dele para chegar ao Hawaii, precisei me conter.

— Bom, entrem... — disse o Sr. Stone.

Ao colocar o primeiro pé dentro do casebre de madeira do velho, o meu queixo caiu. Por fora parecia uma casa abandonada, um barraco. Mas por dentro era uma mansão luxuosa, com cortinas de seda e tapetes de pele. O calor insuportável que fazia na rua ficou lá fora, o ambiente era climatizado e muito agradável. O saguão de entrada era enorme, e terminava em uma sala ainda maior. Ele nos convidou para sentar enquanto foi à cozinha buscar algo para comermos e bebermos.

Eu ainda estava em estado de choque —, mas como...

— É magia —, disse Maia — ele é um veterano, depois de todos os anos de serviço, não o deixariam morar em um casebre abandonado, não acha?!

É claro que não — pensei.

Em seguida o velho voltou, trazendo uma travessa com alguns sanduíches e dois copos de suco de laranja. — Então, para onde sua missão a leva minha jovem? — ele estava me ignorando novamente, minha vontade era levantar e ir embora, nem comer seus sanduíches idiotas e aquele suco de laranja que estava bem gelado. Mas pensei bem antes, tenho que colocar a missão em primeiro lugar — peguei um sanduíche e o comi com todas as minhas forças, — pela missão, pela missão!

Maia também se serviu de um sanduíche, pois estava faminta. — Estamos indo para o Hawaii, o Dragão do Fogo está livre... Precisamos detê-lo — concluiu Maia dando uma enorme mordida no seu sanduíche.

O velho respirou fundo e baixou a cabeça... — Então esse dia chegou, não é? E como vocês pretendem lutar contra esse dragão Maia minha jovem? — perguntou o velho com um olhar de piedade, como se soubesse a resposta.

— Com ma epada e o aco da Maa — falei com a boca cheia de sanduíche, Maia pisou no meu pé novamente.

— Ainda não sabemos Sr. Stone, estamos indo até o Hawaii atrás de respostas — concluiu Maia sem muito entusiasmo na voz.

O velho levantou-se, andou em círculos e parou em nossa frente, — eu sei de algo que pode ajuda-los, talvez seja a única coisa nesse mundo que pode parar o Dragão de Fogo — disse o velho fitando-nos.

Maia e eu nos entreolhamos, talvez a sorte estivesse do nosso lado. Existe algo que pode acabar com o dragão maligno, isso nos animou por algum tempo.

— Há muito tempo, quando os mundos eram um só, os quatro caçadores de dragões que hoje chamamos de deuses, aprisionaram os dragões malignos usando a força da natureza como fonte de poder, assim puderam se igualar aos seus adversários, porém mantendo a bondade e a honra em seus corações. O guerreiro do Oeste, conhecido como Belenus, reuniu seu poder através da Chama Sagrada, uma fonte de poder inesgotável, que o permitiu controlar o fogo e assim igualar seu poder ao do inimigo. Ao vencer a batalha, Belenus guardou a Chama Sagrada onde nenhum homem mortal poderia tocá-la — terminou o velho.

— Então quer dizer que se pegarmos a tal chama, o dragão já era?! — perguntei.

Mais uma vez o velho me olhou com desprezo, — não é tão simples garoto, a Chama Sagrada está sendo guardada por um protetor, uma criatura poderosa e muito antiga, ela vive na Terra há mais tempo que os deuses... Ela é conhecida como Salamandra.

Huumm — Esse é aquele bichinho que muda de cor não é? — Perguntei interessado.

— Não seu idiota! Isso é um camaleão! — Exclamou o velho. — A Salamandra é um Elemental do fogo, um dos seres que deu origem ao fogo.

Aah... obrigado. — disse eu assentindo. O velho me olhou com uma cara feia.

— Muito obrigado pelas informações Sr. Stone, mas precisamos pedir sua ajuda mais uma vez — disse Maia — precisamos que o senhor nos leve até o Hawaii com seu avião. Chegando lá, descobriremos um jeito de achar a Chama Sagrada e como recuperá-la. 

Ele levantou novamente, andou em volta e coçou a cabeça. — Faz muito tempo que não me aventuro naquele avião... — disse o velho olhando para Maia, mas por fim acabou cedendo — Pois bem, durmam aqui essa noite e descansem, partiremos ao amanhecer.


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