Capítulo onze - Brinquei de pegar com um pinscher assassino




Não sei o que é pior, quase ser sequestrado por uma gangue de hienas assassinas, ou brincar de pega-pega com o cachorrinho de uma fada maluca.



Ao recuperar o fôlego, percebi que Maia continuava desmaiada do outro lado do riacho. A fada que a pouco havia me encantado e tentado me afogar estava me encarando perplexa.



― Como você se libertou do meu encanto?!



Eu estava encharcado, ainda recuperava o ar que quase havia perdido dentro da água.



― É que você não faz o meu tipo, ― falei ― muito controladora, sabe?



Minha mente parecia normal, e dessa vez eu conseguia pensar com clareza. E realmente a fadinha assassina não me chamava mais atenção como antes. Ela lançou sobre mim grandes quantidades de seu pó verde mágico, mas nada aconteceu.



― Isso é impossível! O que aconteceu com você?! ― gritava ela incrédula, depois de muitas tentativas falhas de me seduzir novamente.



― Digamos que... um amigo me abriu os olhos em relação a você ― falei gesticulando muito. ― Agora aceite a rejeição e vá embora pacificamente.



Seus olhos se iluminaram em um verde raivoso. ― Você é muito arrogante Oliver Turner! Sua morte será lenta e dolorosa.



Ela tenta me matar, e eu sou arrogante? ― pensei.



Precioso? ― chamou a fada. ― Vá!



Eu estava desarmado, minha espada encontrava-se na outra margem do riacho, ao lado de Maia que continuava inconsciente. Mas o que eu temia?! Um pequeno pinscher?



― O que você acha que seu cachorrinho pode fazer contra mim? ― perguntei ― O máximo que ele pode fazer é me confundir com um hidrante e...



A cena a seguir me fez perder as palavras, e a fome também. O pequeno animal estava sofrendo algum tipo de mutação. Seus ossos se alargaram, sua pele esticou, e seus pelos caíram deixando a mostra sua carne avermelhada e transparente. Era uma visão repugnante e infernal. Em poucos segundos o pequeno pinscher estava maior do que uma vaca, e não era mais um cachorrinho indefeso, suas presas enormes e afiadas deixavam isso bem claro.



O que eu fiz? Bem... o ato mais heroico que eu poderia fazer nesse momento: eu corri.



E como era de se esperar, o monstro correu atrás de mim. Eu corria ao redor de árvores, tentando confundi-lo, mas era impossível, o pinscher assassino continuava a me perseguir furioso. E enquanto isso à maldita fada sobrevoava sobre nós gargalhando muito alto.



O que eu posso fazer? ― pensei. Para recuperar a minha espada, teria que atravessar o riacho, e alguma coisa me dizia que o cachorro poderia nadar mais rápido do que eu, e que me engoliria inteiro antes que chegasse à metade do caminho.



Com o monstro no meu encalço, minha única alternativa foi me lançar sobre uma árvore e subir o mais alto possível, fugindo como um gatinho assustado.



Cachorros não sobem em árvores ― pensei. Mas esse era um cachorro hã... inusitado. Realmente ele não conseguiu subir na árvore, mas conseguiu facilmente derrubá-la. Perdi as contas de quantas cabeçadas ele deu na árvore antes dela desabar comigo junto.



Aaaaaah! ― gritei enquanto a árvore despencava.



 Caabuuum! Fez a árvore ao bater no chão. Felizmente, momentos antes do baque eu saltei e rolei, e na mesma hora voltei a correr.



A nuvem de poeira causada pela queda da árvore confundiu Precioso, e o estrondo o deixou desorientado por alguns segundos. Aproveitei esse momento e corri até o riacho, até o cachorrinho se recuperar do susto, eu estaria na outra margem. Mas a maldita fada se pôs em minha frente, impedindo que eu pulasse na água.



― Este riacho é meu território garoto! Para atravessa-lo precisará passar por mim, e pelo Precioso é claro ― disse ela apontando para trás de mim. O cachorro já havia se recuperado e aproximava-se lentamente.



Uma dica: se um dia você vier para o Hawaii... fique longe da floresta, esta é o território de todos os tipos de criaturas mágicas e psicóticas.



Eu estava cercado, de um lado a fada me impedia de avançar, e do outro um Pinscher raivoso queria me matar.



― É o seu fim Oliver Turner. Sua jornada acaba aqui ― disse a fada vitoriosa.



Como se eu fosse deixar isso acontecer... ― disse uma voz feminina do outro lado do riacho, seguida por uma saraivada de flechas que fez com que a fada se afastasse e o pinscher recuasse.



Era Maia, finalmente havia acordado e parecia revigorada. Ela pegou minha espada e a jogou do outro lado até mim. ― Cuide do cão, e... deixe a fada comigo ― disse ela determinada.



Devo dizer que, com a espada em mãos as coisas melhoraram bastante. O monstro ainda me atacava, porém desta vez eu o repelia com a ponta de minha espada.



Maia disparava suas flechas freneticamente contra a fada que as desviava no ar. A garota alada voou sobre o riacho bradando e saltou sobre Maia fazendo com que seu arco caísse ao lado. As duas rolaram no chão, agarradas e trocando socos.



Precioso me rodeava, esperando uma oportunidade para me atacar. Antes que ele realmente encontrasse essa oportunidade, eu o ataquei. Fiz um arco horizontal com minha espada sobre a cabeça do monstro. Mas o animal era mais rápido do que eu pensava, além de desviar do corte, ainda me acertou uma cabeçada que me lançou com força contra uma árvore que estava a uns cinco metros de mim.



As duas garotas estavam lutando desarmadas, com socos, chutes e cabeçadas... Maia acertou um direto no rosto da fada, que, com um gemido agudo cambaleou para trás. Em seu rosto escorria um liquido verde, que parecia ser sangue. Ela limpou o rosto e começou a correr na direção de Maia, momentos antes de chegar levantou voo, deixando apenas seu joelho no rosto de Maia, a fazendo cair para trás com um grito agudo. A garota com asas deu um giro no ar e começou a descer com grande velocidade, mirando seu pé no pescoço de Maia que estava caída no chão, mas ela conseguiu rolar para o lado no último instante. Antes de levantar-se por completo, girou suas pernas, dando uma rasteira na fada que caiu deitada de costas no chão. Maia subiu em cima da maldita fada, a segurando pelos ombros e lhe deu uma cabeçada no rosto, a fadinha gemeu e caiu inconsciente.



Eu estava um pouco tonto. O que é compreensível, ser lançado a cinco metros contra uma árvore nada macia, não é algo agradável. E para piorar, no momento em que o monstro me atingiu, minha espada caiu e agora estava atrás dele, que se aproximava babando e rosnando.



Cuidado com o cachorro da fada ― lembrei-me das palavras de Belenus, ― droga! Ele poderia ter sido um pouco mais especifico. Quem sabe: Cuidado com o cachorro, ele pode se transformar em um monstro assassino com dentes afiados e uma força sobre humana. ― Sabendo disso, certamente o teria chutado enquanto ainda era um pequeno pinscher.



O monstro abriu a boca e avançou novamente, saltei para o lado e ele abocanhou a árvore que estava atrás de mim, cortando-a ao meio com sua mordida fatal. Tentei correr até a espada, mas o monstro me agarrou pela perna e me arrastou para trás. Senti suas presas perfurando minha perna, uma dor insuportável fazia meu corpo inteiro estremecer. Com a outra perna consegui chutar seu focinho, o fazendo me soltar por alguns segundos. De algum modo consegui me colocar de pé, mas não foi por muito tempo. O cachorro saltou sobre mim colando suas patas enormes sobre o meu peito, fazendo com que eu desabasse no chão. A sensação era de que tinha uma tonelada inteira me empurrando para baixo. O monstro mostrava seus dentes perto do meu rosto, pronto para arrancar a minha cabeça com uma mordida. Minha espada estava a uns quatro metros de distância, seria impossível me desvencilhar do cão e chegar até ela.



De repente uma voz falou dentro de minha cabeça ― concentre-se garoto. A espada responde a você. Ela faz parte de você. ― Era a voz de Belenus. Olhei para a espada e me concentrei o máximo possível, o que era difícil com um cachorro enorme babando em cima de mim. Mas alguma coisa aconteceu, a espada magicamente desapareceu de onde estava e reapareceu em minhas mãos. O monstro demonstrou surpresa ao ver a espada, mas antes que ele pudesse reagir de alguma forma, enterrei a espada em seu peito.


Grruuhr! ― com um grunhido seco, o monstro explodiu em uma nuvem negra de fumaça sobre mim.


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