Não sei o que
é pior, quase ser sequestrado por uma gangue de hienas assassinas, ou brincar
de pega-pega com o cachorrinho de uma fada maluca.
Ao recuperar
o fôlego, percebi que Maia continuava desmaiada do outro lado do riacho. A fada
que a pouco havia me encantado e tentado me afogar estava me encarando
perplexa.
― Como você
se libertou do meu encanto?!
Eu estava
encharcado, ainda recuperava o ar que quase havia perdido dentro da água.
― É que você
não faz o meu tipo, ― falei ― muito controladora, sabe?
Minha mente
parecia normal, e dessa vez eu conseguia pensar com clareza. E realmente a
fadinha assassina não me chamava mais atenção como antes. Ela lançou sobre mim
grandes quantidades de seu pó verde mágico, mas nada aconteceu.
― Isso é
impossível! O que aconteceu com você?! ― gritava ela incrédula, depois de
muitas tentativas falhas de me seduzir
novamente.
― Digamos que...
um amigo me abriu os olhos em relação a você ― falei gesticulando muito. ― Agora
aceite a rejeição e vá embora pacificamente.
Seus olhos
se iluminaram em um verde raivoso. ― Você é muito arrogante Oliver Turner! Sua
morte será lenta e dolorosa.
Ela tenta me matar, e eu sou
arrogante? ― pensei.
Precioso? ― chamou a fada. ― Vá!
Eu estava
desarmado, minha espada encontrava-se na outra margem do riacho, ao lado de
Maia que continuava inconsciente. Mas o que eu temia?! Um pequeno pinscher?
― O que você
acha que seu cachorrinho pode fazer contra mim? ― perguntei ― O máximo que ele pode
fazer é me confundir com um hidrante e...
A cena a
seguir me fez perder as palavras, e a fome também. O pequeno animal estava
sofrendo algum tipo de mutação. Seus ossos se alargaram, sua pele esticou, e seus
pelos caíram deixando a mostra sua carne avermelhada e transparente. Era uma
visão repugnante e infernal. Em poucos segundos o pequeno pinscher estava maior do que uma vaca, e não era mais um
cachorrinho indefeso, suas presas enormes e afiadas deixavam isso bem claro.
O que eu
fiz? Bem... o ato mais heroico que eu poderia fazer nesse momento: eu corri.
E como era
de se esperar, o monstro correu atrás de mim. Eu corria ao redor de árvores,
tentando confundi-lo, mas era impossível, o pinscher
assassino continuava a me perseguir furioso. E enquanto isso à maldita fada sobrevoava
sobre nós gargalhando muito alto.
O que eu posso fazer? ― pensei. Para recuperar a minha
espada, teria que atravessar o riacho, e alguma coisa me dizia que o cachorro
poderia nadar mais rápido do que eu, e que me engoliria inteiro antes que
chegasse à metade do caminho.
Com o
monstro no meu encalço, minha única alternativa foi me lançar sobre uma árvore
e subir o mais alto possível, fugindo como um gatinho assustado.
Cachorros não sobem em árvores ― pensei. Mas esse era um cachorro hã... inusitado. Realmente ele não conseguiu subir na árvore, mas conseguiu
facilmente derrubá-la. Perdi as contas de quantas cabeçadas ele deu na árvore
antes dela desabar comigo junto.
― Aaaaaah! ― gritei enquanto a árvore
despencava.
Caabuuum!
Fez a árvore ao bater no chão. Felizmente, momentos antes do baque eu
saltei e rolei, e na mesma hora voltei a correr.
A nuvem de
poeira causada pela queda da árvore confundiu Precioso, e o estrondo o deixou desorientado por alguns segundos.
Aproveitei esse momento e corri até o riacho, até o cachorrinho se recuperar do susto, eu estaria na outra margem. Mas
a maldita fada se pôs em minha frente, impedindo que eu pulasse na água.
― Este
riacho é meu território garoto! Para
atravessa-lo precisará passar por mim, e pelo Precioso é claro ― disse ela apontando para trás de mim. O cachorro
já havia se recuperado e aproximava-se lentamente.
Uma dica: se
um dia você vier para o Hawaii... fique longe da floresta, esta é o território de todos os tipos de criaturas mágicas
e psicóticas.
Eu estava
cercado, de um lado a fada me impedia de avançar, e do outro um Pinscher raivoso queria me matar.
― É o seu
fim Oliver Turner. Sua jornada acaba aqui ― disse a fada vitoriosa.
― Como se eu fosse deixar isso acontecer... ― disse
uma voz feminina do outro lado do riacho, seguida por uma saraivada de flechas
que fez com que a fada se afastasse e o pinscher
recuasse.
Era Maia,
finalmente havia acordado e parecia revigorada. Ela pegou minha espada e a
jogou do outro lado até mim. ― Cuide do cão, e... deixe a fada comigo ― disse ela determinada.
Devo dizer
que, com a espada em mãos as coisas melhoraram bastante. O monstro ainda me
atacava, porém desta vez eu o repelia com a ponta de minha espada.
Maia
disparava suas flechas freneticamente contra a fada que as desviava no ar. A garota
alada voou sobre o riacho bradando e saltou sobre Maia fazendo com que seu arco
caísse ao lado. As duas rolaram no chão, agarradas e trocando socos.
Precioso me rodeava, esperando uma
oportunidade para me atacar. Antes que ele realmente encontrasse essa
oportunidade, eu o ataquei. Fiz um arco horizontal com minha espada sobre a
cabeça do monstro. Mas o animal era mais rápido do que eu pensava, além de
desviar do corte, ainda me acertou uma cabeçada que me lançou com força contra
uma árvore que estava a uns cinco metros de mim.
As duas
garotas estavam lutando desarmadas, com socos, chutes e cabeçadas... Maia
acertou um direto no rosto da fada, que, com um gemido agudo cambaleou para
trás. Em seu rosto escorria um liquido verde, que parecia ser sangue. Ela limpou
o rosto e começou a correr na direção de Maia, momentos antes de chegar
levantou voo, deixando apenas seu joelho no rosto de Maia, a fazendo cair para
trás com um grito agudo. A garota com asas deu um giro no ar e começou a descer
com grande velocidade, mirando seu pé no pescoço de Maia que estava caída no
chão, mas ela conseguiu rolar para o lado no último instante. Antes de
levantar-se por completo, girou suas pernas, dando uma rasteira na fada que
caiu deitada de costas no chão. Maia subiu em cima da maldita fada, a segurando
pelos ombros e lhe deu uma cabeçada no rosto, a fadinha gemeu e caiu
inconsciente.
Eu estava um
pouco tonto. O que é compreensível, ser lançado a cinco metros contra uma
árvore nada macia, não é algo agradável. E para piorar, no momento em que o
monstro me atingiu, minha espada caiu e agora estava atrás dele, que se
aproximava babando e rosnando.
Cuidado com o cachorro da fada ― lembrei-me das palavras de Belenus, ―
droga! Ele poderia ter sido um pouco mais
especifico. Quem sabe: Cuidado com o cachorro, ele pode se transformar em um
monstro assassino com dentes afiados e uma força sobre humana. ― Sabendo
disso, certamente o teria chutado enquanto ainda era um pequeno pinscher.
O monstro
abriu a boca e avançou novamente, saltei para o lado e ele abocanhou a árvore
que estava atrás de mim, cortando-a ao meio com sua mordida fatal. Tentei
correr até a espada, mas o monstro me agarrou pela perna e me arrastou para
trás. Senti suas presas perfurando minha perna, uma dor insuportável fazia meu
corpo inteiro estremecer. Com a outra perna consegui chutar seu focinho, o
fazendo me soltar por alguns segundos. De algum modo consegui me colocar de pé,
mas não foi por muito tempo. O cachorro saltou sobre mim colando suas patas
enormes sobre o meu peito, fazendo com que eu desabasse no chão. A sensação era
de que tinha uma tonelada inteira me empurrando para baixo. O monstro mostrava
seus dentes perto do meu rosto, pronto para arrancar a minha cabeça com uma
mordida. Minha espada estava a uns quatro metros de distância, seria impossível
me desvencilhar do cão e chegar até ela.
De repente
uma voz falou dentro de minha cabeça ― concentre-se
garoto. A espada responde a você. Ela faz parte de você. ― Era a voz de
Belenus. Olhei para a espada e me concentrei o máximo possível, o que era
difícil com um cachorro enorme babando em cima de mim. Mas alguma coisa
aconteceu, a espada magicamente desapareceu de onde estava e reapareceu em
minhas mãos. O monstro demonstrou surpresa ao ver a espada, mas antes que ele pudesse
reagir de alguma forma, enterrei a espada em seu peito.
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