Meu pesadelo
começou assim.
Eu estava em
um tipo de câmera subterrânea. Podia sentir que estava de baixo do solo, pois o
ar era gélido e sufocante. Em uma das mãos segurava a Espada do Oeste, a arma que me foi confiada por Belenus o deus do fogo.
As paredes
da caverna eram úmidas e cheias de limo, estalactites se espalhavam por toda a
parte de cima da caverna. Eu me encontrava em frente a uma bifurcação, dois
caminhos. Um deles era iluminado por uma forte luz, que brilhava ao fundo.
O outro era
tomado por total escuridão. A escolha parecia óbvia, o caminho da luz seria a
decisão mais sensata. Porém, mesmo sabendo por onde deveria seguir, eu
continuava parado, como se algo me fizesse pensar melhor no assunto.
Antes que eu
pudesse decidir, uma voz suave soprou no meu ouvido —, ainda não... — nesse momento a câmera foi tomada por uma onda de
fogo azul, que me fez despertar com um grito.
Eu estava
sozinho dentro de um quarto enorme. O pequeno casebre de madeira do Sr. Stone
contava com três grandes quartos e uma suíte, além de área de lazer e academia.
Com certeza era o barraco caindo aos pedaços mais luxuoso que eu já tinha
visto.
Logo ao
acordar tomei uma longa ducha, estava a dois dias viajando com Maia e desde
então meu corpo não sabia o que era um banho. Ao sair do banheiro, minhas
roupas estavam em cima da cama, surpreendentemente limpas. — minha mãe adoraria esse tipo de magia — pensei.
Senti uma ponta de saudades dela, esperava que estivesse tudo bem em casa.
Maia e o Sr.
Stone estavam na cozinha desfrutando de um grande café da manhã.
— Bom dia dorminhoco
— disse Maia sorrindo, — se apresse, logo partiremos.
Sem hesitar
corri até a mesa e aproveitei aquele banquete como se fosse o último. Bem, poderia
ser o último mesmo, logo estaríamos viajando para o Hawaii, atrás de um dragão
do mal, que poderia nos destruir sem muito esforço.
A mesa do
café da manhã era enorme, assim como tudo no interior dessa casa. Depois de
satisfeitos, nos preparamos e nos dirigimos para fora.
Eu confesso que
quando chegamos fiquei um pouco receoso com a aparência do avião, ele estava
caindo aos pedaços e parecia ser muito antigo. Mas depois de ver a magia que
transformava o velho barraco do Sr. Stone em uma mansão sublime, me
tranquilizei. — Certamente com o avião
será a mesma coisa — pensei. Não. Eu estava errado. O avião era velho e
antigo mesmo.
— Você está
maluca?!! — Questionei Maia sem o Sr. Stone ver. — Deve ser mais fácil
morrermos voando nessa banheira, do que lutando com o dragão do fogo!
— Não está
tão ruim assim —, disse Maia batendo com a mão na lataria do avião, fazendo com
que um dos remendos se soltasse e caísse no chão. — Aãh... o Sr. Stone é um ótimo piloto, certamente nos levará em
segurança até o Hawaii.
Sempre
imaginei que morreria nas mãos de um professor revoltado, talvez a Sra. Figgs.
Mas depois de conhecer esse mundo encantado, tenho descoberto outros inúmeros
modos bem mais criativos de morrer. Dessa vez poderia ser em um avião que
provavelmente foi usado na segunda guerra mundial, e ao que parece estava do
lado de quem perdeu a guerra.
O Sr. Stone
aparentava estar animado com a possível aventura em que se metera. Estava
usando uma roupa velha de explorador, um chapéu cury apertado na cabeça e óculos escuros que não combinavam com
nada. ― Prontos para decolar?! ― Perguntou o velho parecendo o Indiana Jones aposentado.
― Sim
senhor! ― Respondeu Maia empolgada.
― Estou pronto
para morrer nesse monte de lixo... ― cochichei contrariado.
― O que você
disse garoto?
― Eu disse
que estou pronto para conhecer um monte de bichos... lá no Hawaii ― respondi
rapidamente.
O velho me
encarou por mais alguns segundos, e logo entrou no avião.
― Vamos senhor teimoso, vai dar tudo certo ―
disse Maia me empurrando para dentro do avião.
Sentei e
apertei o cinto. Logo o avião começou a se mexer, estava ganhando velocidade
pela pista de decolagem improvisada ao lado da casa do Sr. Stone. Toda
estrutura do avião começou a estremecer, o barulho dos motores era
ensurdecedor.
― Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh! ― Gritamos Maia
e eu em uníssono.
Antes que
percebêssemos o avião estava plainando no ar. ― Tudo certo! ― Acenou o Sr.
Stone dentro da pequena cabine do piloto.
― Ufa... Passamos pela decolagem ―, respirei
aliviado.
― Agora só
precisávamos sobreviver a algumas horas de voo e depois ao pouso. ― Disse Maia
com um sorriso sarcástico no rosto.
― Nossa.
Assim você me deixa muito mais tranquilo, engraçadinha!
― Disse eu dando um tapinha em seu ombro.
O voo em
partes foi tranquilo. De vez em quando enfrentávamos uma turbulência, o avião
estremecia e parecia que se partiria em dois, nada demais. Maia dormiu durante
a viagem toda, eu decidi ficar acordado caso acontecesse algo com o avião. É
claro que se um dos motores parasse de funcionar eu não poderia fazer muitas
coisas, além de me desesperar ainda mais. Logo o velho nos avisou que estávamos
chegando, e pousaríamos em breve. A decolagem foi difícil, mas o pouso foi ainda
pior, no mínimo assustador e apavorante. Não vi minha vida passar diante dos
meus olhos, pois estava ocupado demais gritando.
Pousamos em
um descampado perto da praia. O cheiro do mar adentrava em minhas narinas,
diferentemente da cidade, aqui o ar era puro e agradável. E ainda tinha o
barulho das ondas, que definitivamente me acalmava. Sempre sonhei em vir para o
Hawaii, é claro que meus sonhos não envolviam nenhum dragão assassino ou
elementais do fogo. Mas ainda assim estava contente de estar naquele pequeno paraíso.
O Sr. Stone
despediu-se de Maia e lhe desejou boa sorte. Olhou para mim com cara de
desprezo, ― espero estar enganado garoto, porque para mim você não parece ser
grande coisa.
― Ah obrigado. E eu gosto do senhor da
mesma forma que gosto do seu avião. ― Respondi com um sorriso irônico no rosto.
O velho pareceu não entender o trocadilho. Logo ele decolou novamente e foi
embora, deixando-nos sozinhos no Hawaii.
― Então...
Tem alguma ideia de onde devemos procurar a tal chama sagrada?! ― Perguntei.
― Tenho sim,
vamos visitar o lugar onde ficava a barreira mágica do oeste. Se a chama
realmente está aqui, eu conheço uma pessoa que talvez possa nos dizer onde
procurar.
― Não sendo
nenhum velho mal humorado novamente, eu concordo.
Maia revirou
os olhos, e me puxou pelo braço. ― Vamos seu bobo, não temos tempo a perder.
Dessa vez
estávamos preparados para a aventura, o Sr. Stone nos cedeu alguns equipamentos
mágicos de suas antigas viagens. Um cantil de água, que estava ligado a uma
fonte mágica, e o liquido em seu interior nunca acabava. Uma barraca especial
que cabia dentro da mochila quando estava desmontada, e quando entravamos para
dentro ela tornava-se invisível por fora, nos deixando fora da vista de
monstros, pelo menos durante a noite. E o mais incrível de todos, um anel que
se transformava em um escudo de carbino, um
dos materiais mais resistentes do mundo, segundo o velho que nos deu. Eu o
estava usando e ficava testando-o a cada minuto, era sensacional.
Ao sair do
descampado, entramos em uma floresta fechada.
― O caminho
até a barreira do oeste é um pouco complicado
― disse Maia, ― fique alerta.
Eu esperava
que ela estivesse falando complicado, no
sentido de ser difícil de encontrar. Mas pelo seu tom de voz, acredito que era
outra coisa. E não demorou muito para as minhas suspeitas serem confirmadas. Em
nosso caminho haviam três figuras humanoides, porém suas cabeças se
assemelhavam a de hienas. Estavam usando armaduras de lata. Em uma das mãos um
copo com algum tipo de bebida estranha, e na outra um machado.
― Essa não ―,
disse Maia ― são Gnolls.
― São o que?! ― Perguntei sem entender o que ela estava
falando.
― Gnolls. Híbridos, metade homem, metade
hiena. São criaturas insuportáveis e violentas. Vivem bêbados e roubam
viajantes despreparados. ― Explicou Maia baixinho para não chamar a atenção dos
monstros logo à frente. ― Vamos desviar o caminho, será melhor se não formos
vistos.
― Hahahaha. Acredito que seja tarde demais
pequenos humanos. ― disse alguém atrás de nós, com uma risada eufórica e
uma voz extremamente irônica.
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