Capítulo oito - Voamos em um avião velho




Meu pesadelo começou assim.
Eu estava em um tipo de câmera subterrânea. Podia sentir que estava de baixo do solo, pois o ar era gélido e sufocante. Em uma das mãos segurava a Espada do Oeste, a arma que me foi confiada por Belenus o deus do fogo.

As paredes da caverna eram úmidas e cheias de limo, estalactites se espalhavam por toda a parte de cima da caverna. Eu me encontrava em frente a uma bifurcação, dois caminhos. Um deles era iluminado por uma forte luz, que brilhava ao fundo.

O outro era tomado por total escuridão. A escolha parecia óbvia, o caminho da luz seria a decisão mais sensata. Porém, mesmo sabendo por onde deveria seguir, eu continuava parado, como se algo me fizesse pensar melhor no assunto.

Antes que eu pudesse decidir, uma voz suave soprou no meu ouvido —, ainda não... — nesse momento a câmera foi tomada por uma onda de fogo azul, que me fez despertar com um grito.



Eu estava sozinho dentro de um quarto enorme. O pequeno casebre de madeira do Sr. Stone contava com três grandes quartos e uma suíte, além de área de lazer e academia. Com certeza era o barraco caindo aos pedaços mais luxuoso que eu já tinha visto.



Logo ao acordar tomei uma longa ducha, estava a dois dias viajando com Maia e desde então meu corpo não sabia o que era um banho. Ao sair do banheiro, minhas roupas estavam em cima da cama, surpreendentemente limpas. — minha mãe adoraria esse tipo de magia — pensei. Senti uma ponta de saudades dela, esperava que estivesse tudo bem em casa.



Maia e o Sr. Stone estavam na cozinha desfrutando de um grande café da manhã.



— Bom dia dorminhoco — disse Maia sorrindo, — se apresse, logo partiremos.



Sem hesitar corri até a mesa e aproveitei aquele banquete como se fosse o último. Bem, poderia ser o último mesmo, logo estaríamos viajando para o Hawaii, atrás de um dragão do mal, que poderia nos destruir sem muito esforço.

A mesa do café da manhã era enorme, assim como tudo no interior dessa casa. Depois de satisfeitos, nos preparamos e nos dirigimos para fora.



Eu confesso que quando chegamos fiquei um pouco receoso com a aparência do avião, ele estava caindo aos pedaços e parecia ser muito antigo. Mas depois de ver a magia que transformava o velho barraco do Sr. Stone em uma mansão sublime, me tranquilizei. — Certamente com o avião será a mesma coisa — pensei. Não. Eu estava errado. O avião era velho e antigo mesmo.



— Você está maluca?!! — Questionei Maia sem o Sr. Stone ver. — Deve ser mais fácil morrermos voando nessa banheira, do que lutando com o dragão do fogo!



— Não está tão ruim assim —, disse Maia batendo com a mão na lataria do avião, fazendo com que um dos remendos se soltasse e caísse no chão. — Aãh... o Sr. Stone é um ótimo piloto, certamente nos levará em segurança até o Hawaii.



Sempre imaginei que morreria nas mãos de um professor revoltado, talvez a Sra. Figgs. Mas depois de conhecer esse mundo encantado, tenho descoberto outros inúmeros modos bem mais criativos de morrer. Dessa vez poderia ser em um avião que provavelmente foi usado na segunda guerra mundial, e ao que parece estava do lado de quem perdeu a guerra.



O Sr. Stone aparentava estar animado com a possível aventura em que se metera. Estava usando uma roupa velha de explorador, um chapéu cury apertado na cabeça e óculos escuros que não combinavam com nada. ― Prontos para decolar?! ― Perguntou o velho parecendo o Indiana Jones aposentado.



― Sim senhor! ― Respondeu Maia empolgada.



― Estou pronto para morrer nesse monte de lixo... ― cochichei contrariado.



― O que você disse garoto?



― Eu disse que estou pronto para conhecer um monte de bichos... lá no Hawaii ― respondi rapidamente.



O velho me encarou por mais alguns segundos, e logo entrou no avião.



― Vamos senhor teimoso, vai dar tudo certo ― disse Maia me empurrando para dentro do avião.



Sentei e apertei o cinto. Logo o avião começou a se mexer, estava ganhando velocidade pela pista de decolagem improvisada ao lado da casa do Sr. Stone. Toda estrutura do avião começou a estremecer, o barulho dos motores era ensurdecedor.



Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh! ― Gritamos Maia e eu em uníssono.



Antes que percebêssemos o avião estava plainando no ar. ― Tudo certo! ― Acenou o Sr. Stone dentro da pequena cabine do piloto.



Ufa... Passamos pela decolagem ―, respirei aliviado.



― Agora só precisávamos sobreviver a algumas horas de voo e depois ao pouso. ― Disse Maia com um sorriso sarcástico no rosto.



― Nossa. Assim você me deixa muito mais tranquilo, engraçadinha! ― Disse eu dando um tapinha em seu ombro.



O voo em partes foi tranquilo. De vez em quando enfrentávamos uma turbulência, o avião estremecia e parecia que se partiria em dois, nada demais. Maia dormiu durante a viagem toda, eu decidi ficar acordado caso acontecesse algo com o avião. É claro que se um dos motores parasse de funcionar eu não poderia fazer muitas coisas, além de me desesperar ainda mais. Logo o velho nos avisou que estávamos chegando, e pousaríamos em breve. A decolagem foi difícil, mas o pouso foi ainda pior, no mínimo assustador e apavorante. Não vi minha vida passar diante dos meus olhos, pois estava ocupado demais gritando.



Pousamos em um descampado perto da praia. O cheiro do mar adentrava em minhas narinas, diferentemente da cidade, aqui o ar era puro e agradável. E ainda tinha o barulho das ondas, que definitivamente me acalmava. Sempre sonhei em vir para o Hawaii, é claro que meus sonhos não envolviam nenhum dragão assassino ou elementais do fogo. Mas ainda assim estava contente de estar naquele pequeno paraíso.



O Sr. Stone despediu-se de Maia e lhe desejou boa sorte. Olhou para mim com cara de desprezo, ― espero estar enganado garoto, porque para mim você não parece ser grande coisa.



Ah obrigado. E eu gosto do senhor da mesma forma que gosto do seu avião. ― Respondi com um sorriso irônico no rosto. O velho pareceu não entender o trocadilho. Logo ele decolou novamente e foi embora, deixando-nos sozinhos no Hawaii.



― Então... Tem alguma ideia de onde devemos procurar a tal chama sagrada?! ― Perguntei.



― Tenho sim, vamos visitar o lugar onde ficava a barreira mágica do oeste. Se a chama realmente está aqui, eu conheço uma pessoa que talvez possa nos dizer onde procurar.



― Não sendo nenhum velho mal humorado novamente, eu concordo.



Maia revirou os olhos, e me puxou pelo braço. ― Vamos seu bobo, não temos tempo a perder.



Dessa vez estávamos preparados para a aventura, o Sr. Stone nos cedeu alguns equipamentos mágicos de suas antigas viagens. Um cantil de água, que estava ligado a uma fonte mágica, e o liquido em seu interior nunca acabava. Uma barraca especial que cabia dentro da mochila quando estava desmontada, e quando entravamos para dentro ela tornava-se invisível por fora, nos deixando fora da vista de monstros, pelo menos durante a noite. E o mais incrível de todos, um anel que se transformava em um escudo de carbino, um dos materiais mais resistentes do mundo, segundo o velho que nos deu. Eu o estava usando e ficava testando-o a cada minuto, era sensacional.



Ao sair do descampado, entramos em uma floresta fechada.



― O caminho até a barreira do oeste é um pouco complicado ― disse Maia, ― fique alerta.



Eu esperava que ela estivesse falando complicado, no sentido de ser difícil de encontrar. Mas pelo seu tom de voz, acredito que era outra coisa. E não demorou muito para as minhas suspeitas serem confirmadas. Em nosso caminho haviam três figuras humanoides, porém suas cabeças se assemelhavam a de hienas. Estavam usando armaduras de lata. Em uma das mãos um copo com algum tipo de bebida estranha, e na outra um machado.



― Essa não ―, disse Maia ― são Gnolls.



São o que?! ― Perguntei sem entender o que ela estava falando.



Gnolls. Híbridos, metade homem, metade hiena. São criaturas insuportáveis e violentas. Vivem bêbados e roubam viajantes despreparados. ― Explicou Maia baixinho para não chamar a atenção dos monstros logo à frente. ― Vamos desviar o caminho, será melhor se não formos vistos.



Hahahaha. Acredito que seja tarde demais pequenos humanos. ― disse alguém atrás de nós, com uma risada eufórica e uma voz extremamente irônica.


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