Qual o melhor
lugar para estar quando um monstro é destruído e se transforma em fumaça? Com
certeza não é em baixo dele.
O cachorro
havia desaparecido, porém sua essência monstruosa desabou sobre mim. O cheiro
parecia algo como a mistura de perfume de gambá com carne podre, um aroma
adorável. Eu estava tonto e desorientado.
Se o monstro
cheirasse assim em quanto estava vivo, teria sido muito mais difícil vencê-lo —
pensei.
Eu estava me
sentindo exausto. Claro, é compreensível pensando em tudo que aconteceu nas
últimas horas. Uma fada doida me seduziu e quase me matou. Encontrei um deus
que me desafiou para uma partida de bilhar. E por último enfrentei um pinscher
mutante que por pouco quase arrancou o meu rosto. Mas a minha exaustão estava
além disso, era como se alguma coisa tivesse sugado minha energia. Espantei o
sono saltando na água fria do riacho. Com certa dificuldade nadei até a outra
margem.
A fada se encontrava
amarrada e inconsciente na beira do riacho, seu rosto que antes era limpo e
delicado estava cortado e inchado devido aos golpes que sofreu durante o
combate. Quando coloquei os pés no outro lado, o abraço de Maia quase me
derrubou de volta para a água.
— Graças a
Deus você está bem! — exclamou ela apertando meu pescoço, mas soltando
rapidamente. — Você está fedendo! — disse ela tampando o nariz.
— Essência de
pinscher! — falei abrindo os braços.
Eu continuava
me sentindo cansado, estava com muito sono.
— Mas afinal
o que aconteceu aqui? — perguntou Maia, ainda com o nariz tampado.
Contei a ela
toda a história sobre o meu encontro com Belenus, sobre a partida de bilhar e o
homem misterioso que ele nos mandou procurar. Mas decidi não falar nada sobre a
parte em que a fada me seduziu e quase me matou, isso era... hum...
constrangedor.
Maia ouviu
atentamente cada detalhe da história, e por fim estava perplexa com os meus
relatos.
— Isso é
incrível! Você sabe o que isso significa Oliver?! — perguntou ela com um
sorriso esplendoroso no rosto.
— Ãah... — eu
estava com muito sono para pensar.
— A profecia!
Isso deixa mais claro que você é o guerreiro da profecia.
É claro, eu
havia esquecido. Quando o mal renascer, um novo guerreiro deve crescer. A luz o
seu caminho guiará, e seu futuro ele mesmo fará.
Por alguns
segundos fiquei pensando sobre isso, eu estava me sentindo mais lento do que o
normal.
— Mas afinal,
o que meu encontro com Belenus tem a ver com essa profecia? — perguntei ao
conseguir formar um raciocínio.
— Bem...
nada. Mas Oliver, faz mil anos que os deuses não aparecem para ninguém. O fato
de você ter se encontrado pessoalmente com um deles mostra que você é especial.
— É, pensando
assim... — nesse instante minhas pernas fraquejaram, tudo ao meu redor ficou de
cabeça para baixo. Senti os meus joelhos baterem no chão, e tudo ficou escuro.
Dessa vez não
fui parar no playground de nenhum deus. Pelo contrário, dessa vez emergi de
cabeça em um pesadelo. Um sonho que se repetia pela segunda vez. Eu estava em
uma câmera subterrânea, segurando a Espada do Oeste em uma das mãos. O lugar
era úmido e escuro, e parecia que alguma coisa se mexia entre as sombras.
Continuei caminhando até me encontrar no mesmo lugar do sonho anterior, em
frente a uma bifurcação. Luz e trevas. Mas novamente o meu corpo estava
paralisado, minhas pernas simplesmente travaram. Foi quando uma voz arrastada
ecoou dentro da caverna: Você é fraco Oliver Turner... não tem forças nem para
segurar essa espada.
Nesse momento
a Espada do Oeste começou a tornar-se pesada, em contraponto meu corpo parecia
estar ficando mais fraco. Tentei manter a espada erguida, a segurando agora com
as duas mãos. Porém foi inútil, ela parecia estar pesando uma tonelada, e
quanto mais eu tentava segurá-la, mais exausto me sentia. Por fim acabei
deixando-a cair, ao tocar o solo ela desapareceu, e eu caí ajoelhado, sem
forças e com muito sono. Seria possível dormir dentro de um sonho? — pensei.
Mas antes que pudesse descobrir, uma gargalhada sombria e assustadora cortou a
escuridão caverna adentro. Hahaha... é assim que você pretende me derrotar? — gritou aquela mesma voz arrastada de
antes.
Quase
desacordado levantei a cabeça. — Quem...?
De dentro do
túnel escuro um rosto monstruoso apareceu e parou em minha frente. É difícil
descrever o que senti nessa hora, a sensação que mais se aproxima é o pânico.
Era Rendar, o dragão maligno do fogo que eu estava caçando. Mesmo sendo apenas
um sonho, era aterrorizante estar na presença desse monstro. O ar na caverna se
tornou rarefeito, minha garganta estava ficando seca e meu corpo continuava
perdendo as forças.
— Você só tem
uma chance de sobreviver Oliver Turner... — disse a voz do dragão se arrastando
a minha volta. — Una-se a mim! Juntos poderemos fazer grandes coisas.
Eu não
conseguia falar, se pudesse teria mandado esse monstro para bem longe, mas a
minha voz simplesmente não saía. — O seu futuro está na escuridão... não lute
contra isso...
Essas
palavras me cortavam como navalhas. O que ele poderia estar querendo dizer com
isso? Tomei ar, enchi os meus pulmões e com toda a força que ainda me restava
eu gritei.
— NÃO!
Foi nessa
hora que um fogo azul tomou conta da caverna, fazendo todo o lugar vibrar e
tremeluzir.
Quando me dei
por conta estava sentado em uma cama improvisada, gritando repetidas vezes à
palavra "não". Maia estava me encarando e segurando em minhas mãos,
ao seu lado estava um garoto também. Eu me sentia atônito, como se tudo o que
aconteceu tivesse sido real.
— Fique
tranquilo Oliver, — disse Maia segurando minha mão e tentando me acalmar —
estamos seguros agora.
Respirei
fundo. Olhei em volta, estávamos em um lugar diferente. Era um tipo de bunker,
parecia na verdade uma base de operações. Era um lugar enorme e cheio de
pessoas caminhando por todos os lados. Diversas telas LED se espalhavam pelo
local, cada uma mostrando uma cena diferente. Uma mostrava a cidade de Nova
York, reconheci de longe as ruas onde eu morava. Em outra pude ver a Casa
Branca, era Washington. Outra mostrava o que parecia ser o Alaska, ou talvez
fosse apenas um especial de natal passando na TV a cabo.
— Que lugar é
esse?! — perguntei tentando organizar as ideias. Quando apaguei estávamos na
floresta ao lado do riacho.
— Esse é o
centro de controle da barreira do oeste — respondeu o garoto que estava ao lado
de Maia. Ele aparentava ser um pouco mais velho do que eu, tinha a barba feita,
seus cabelos eram curtos e pretos, assim como seus olhos. Sua voz soava calma,
mas também demonstrava seriedade nas palavras. — É um prazer conhecê-lo Oliver.
Desde que você se revelou venho acompanhando seus passos por aqui — disse ele
abrindo os braços e mostrando as telas ao redor.
Ele estava me
espionando? — pensei.
— Mas quem é
você? — disparei.
Ele sorriu e
me estendeu a mão — pode me chamar de Flynt.
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