Capítulo dezesseis - Uma divindade da água nos acolheu









Mais uma vez eu usei minha energia mágica em excesso. Segundos antes de perder a consciência, não pude deixar de imaginar que este seria o meu fim. Normalmente uso essa energia apenas para o combate com a espada, ela ajuda a melhorar os meus reflexos no campo de batalha, e aumenta a minha aptidão com a arma. Usar a energia para outros feitos, ainda é algo difícil para mim. Mas a situação exigia algo maior do que um ataque físico. Maia estava em perigo, e eu simplesmente não pensei em nada, apenas agi.
Dessa vez não ouve sonhos, pesadelos ou qualquer outra interferência mágica em meu sono, eu apenas dormi. Percebi isso ao abrir os olhos. Estava em um pequeno quarto, o telhado era feito de palha, assim como a cama que eu repousava. Colado às paredes de madeira, havia alguns cartazes de surf, entre eles, um chamou a minha atenção: Jogos Olímpicos de Estocolmo de1912 — dizia no pôster —mas o curioso era que eu reconheci uma das pessoas que estavam no cartaz, era nosso novo amigo, senhor Glauco. Você deve estar pensando: mas ele não era extremamente velho? Sim, ele aparenta ter uns cem anos mesmo (ou mais), talvez se cuidando e levando uma vida saudável ele pudesse viver por tanto tempo. Mas o problema era que sua aparência no pôster, era a mesma dos dias atuais.
Isso só pode ser algum tipo de montagem — pensei.
Encontrava-me sozinho no quarto, e não tinha ideia do que estava acontecendo. Olhei para os lados, mas nenhum sinal de Maia, ela também havia desmaiado durante a batalha com Rhinoceros.
 Isso me lembrou de que vencemos e conseguimos a pele a prova de fogo — que também não estava ali naquele momento.
Bem, pelo menos estava me sentindo renovado — pensei — como se não tivesse quase esgotado minha energia mágica há — ao que parecia — pouco tempo.
Ao sair do pequeno quarto, percebi que estava de volta no Vilarejo Abandonado — que não tinha nada de abandonado, pois continuava repleto de havaianos e turistas por todos os lados. O resto da casa, assim como o quarto também era de madeira e bem humilde. Havia uma mesa redonda com quatro cadeiras no meio da sala, em um dos cantos um velho sofá que parecia ter sido encontrado no lixo. Pendurados em algumas partes da casa havia vasos com flores coloridas, inundando o ambiente com perfumes variados. No outro lado da sala, sobre uma cômoda repousava um grande aquário, onde um peixe dourado me encarava fixamente — como se estivesse me vigiando — eu sei, parece loucura, mas tenho certeza que ele estava olhando para mim.
A porta que dava para os fundos encontrava-se aberta, e ao longe se podiam ouvir algumas pequenas explosões. Dei mais uma olhada para o peixe, — que continuava me encarando com um olhar desconfiado — o ignorando e tomado pela curiosidade, atravessei a porta, saindo de casa.
Ao sair, meu coração acelerou mais do que um avião em queda livre. Era Maia, havia uma figura de costas e ela estava com seu arco em mãos.
Ela está em perigo — foi meu primeiro pensamento. Sem hesitar invoquei a Espada do Oeste e corri até ela bradando. — Iaaaaaaaaaah!
Ao perceber a minha presença, ela baixou sua arma com uma expressão de espanto no rosto.
— O que você está fazendo Oliver?! — perguntou uma Maia confusa.
A figura que estava de costas era o senhor Glauco, e ao que parecia, Maia não estava correndo perigo algum.
— Ãaah... eu pe-pensei que... que... o que está acontecendo aqui? — perguntei olhando para o arco nas mãos dela.
— Bem... precisamos conversar Oliver — disse ela.
Foi uma história complicada. Resumindo: Maia explicou que o senhor Glauco, na verdade era uma divindade da água. Ele nasceu mortal, vivendo como pescador. Descobrindo acidentalmente uma erva mágica que conseguia trazer os peixes que apanhava de volta à vida, decidiu experimentá-la em si mesmo. Após comer da erva, senhor Glauco também pulou na água, seguindo o exemplo dos peixes que reviveram. Foi acolhido pelas divindades aquáticas e foi lavado de tudo que era mortal, tornando-se imortal.
Ela contou sobre algum romance com uma feiticeira chamada Circe, e também sobre outra mulher conhecida como Ariadne, mas eu deixei de escutar quando ela disse que desde o início o velho sabia quem nós éramos, e tinha conhecimento sobre nossa missão. Isso me deixou extremamente irritado.
— Se você sabia de tudo, porque não nos ajudou?! — perguntei sem esconder a minha revolta.
— Eu não posso me envolver em suas batalhas, mas eu lhes ajudei como pude — disse ele com serenidade na voz — os alimentei, e lhes dei a dica do rinoceronte.
— O senhor quer dizer o rinoceronte que quase nos matou! — falei exasperado.
Essa mania dos deuses falarem que não podem se envolver em nossas batalhas, estava me irritando desde o encontro com Belenus, eles são poderosos e imortais, podiam simplesmente descer de seus pedestais e acabar com isso tudo de uma vez, mas por algum motivo desconhecido preferem escolher mortais para realizar essas missões impossíveis.
— Fique calmo Oliver — disse Maia tentando me acalmar. — O senhor Glauco sabia que conseguiríamos vencer a batalha contra o Rhinoceros. E quando nos encontrou desmaiados na praia, nos trouxe até sua cabana e cuidou de nossos ferimentos. E ele também guardou o manto do rinoceronte, veja — concluiu ela mostrando o grande manto a prova de fogo que ganhamos ao derrotar o monstro.
— A garota fala a verdade meu bom jovem, — disse o velho — eu sabia que aquele rinoceronte burro não seria páreo para os escolhidos dos deuses — concluiu ele com um largo sorriso no rosto.
— Pouco antes de você acordar, o senhor Glauco estava me dando algumas dicas sobre magia com o arco, — contou Maia empolgada — aprendi alguns novos truques que nos podem ser muito úteis em batalha.
Enquanto eu dormia, Maia teve aulas de arco e flecha com uma divindade aquática, será que eu perdi mais alguma coisa? — pensei.
— E falando nisso... quanto tempo eu dormi? — para mim pareciam apenas alguns minutos, pois lembro apenas de desmaiar e depois acordar no quartinho ao lado.
— Huum... sinto muito garoto, mas você dormiu por quase vinte e quatro horas — disse o velhinho com uma expressão desanimada no rosto.
— O que?! — exclamei. —Como assim?! Por que não me acordaram antes?
— Nós tentamos Oliver, — disse Maia — mas você parecia em coma, eu fiquei muito preocupada... temi que você... que você não acordasse mais — terminou ela com um olhar triste.
Fiquei contente em saber que Maia se preocupava comigo dessa forma, mas em contrapartida me sentia atônito com todo esse tempo que perdemos — bem... isso nos deixa com quanto tempo?
A partir de agora faltam quinze horas até a erupção do vulcão e... a ascensão de Rendar — disse o senhor Glauco olhando no relógio.
— Precisamos partir imediatamente — falou Maia.
— Concordo — disse eu. — Mas me diga... o que é aquele peixe? — perguntei apontando para o pequeno peixinho dourado que parecia continuar me encarando.
O senhor Glauco sorriu, e respondeu: — é apenas um peixe comum Oliver.
Despedimo-nos de nosso amigo senhor divindade da água. E voltamos à estrada, seguindo nosso GPS mágico. Andamos por aproximadamente três horas até chegarmos à entrada de uma caverna.

Mas não pensem que foi uma caminhada tranquila e agradável. Primeiro nos deparamos com um grupo de goblins havaianos, eles usavam camisas floreadas e nos atacaram com pranchas de surf. Mais adiante esbarramos em um troll, mas por incrível que pareça ao nos ver ele correu provavelmente com medo de nossos poderes fantásticos (ou não). E sem falar nos comerciantes locais que tentavam de todas as formas nos empurras suas quinquilharias havaianas, e quando recusávamos eles praguejavam algumas coisas que nem ouso repetir.
Por fim, adentramos na caverna, que a primeira vista não parecia possuir nada de especial. Para humanos normais provavelmente seria uma caverna normal, mas não para nós. Alguns passos dentro da escuridão e uma luz brilhou e o chão se abriu revelando uma escadaria para baixo. Nos entreolhamos, e fizemos o que era óbvio, descemos. Uma descida que durou cerca de vinte minutos. Quando os degraus terminaram, eu olhei para trás e lembrei que se sobrevivêssemos precisaríamos subir tudo aquilo novamente não poderia ter um elevador?  pensei.
O interior da caverna lembrava muito a câmara dos meus sonhos, isso fez um frio percorrer a minha espinha, normalmente nos meus pesadelos as coisas não acabavam bem. Estávamos envoltos em total escuridão, a única luz era do GPS que ainda nos guiava dentro da caverna, passamos por um portal de pedras, cruzamos um longo corredor estreito e chegamos em um lugar amplo e esplendoroso. Pedras de todos os tamanhos se amontoavam umas sobre as outras, e como uma cachoeira, a água descia entre elas, desaguando em um rio limpo e cristalino. Luzes iluminavam essa parte da câmara, como se fossem raios solares o que era impossível, pois estamos a quilômetros da superfície. Por um momento ficamos aturdidos observando aquela maravilha da natureza, até uma voz feminina nos acordar do transe:
Sejam bem vindos jovens guerreiros... 



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